“Mas Caio, seu ignóbil, o filme americano de Dragon Ball não é assim tão velho!“, grita uma voz distante. Mas é aí que você se engana, meu jovem leitor bebedor de mucilon! Não vou sujar meu bem cuidado Porão com aquela abominação hollywoodiana que ousou se chamar de “Evolução” mesmo enfiando o Goku no Ensino Médio. Na verdade vamos falar de um filme mais velho que a maioria de vocês, o clássico (?) de 1991 新七龍珠　神龍的傳說, mais conhecido como Dragon Ball: The Magic Begins, diretamente de Taiwan! Então peguem seu radar, subam na nuvem voadora e vamos procurar as Esferas do Dragão!

É dolorosamente óbvio apontar que a franquia Dragon Ball é um sucesso – afinal é um dos animes mais populares de todos os tempos, transcendendo gerações e blá-blá-blá. Mas o que muita gente esquece é que enquanto a história de Goku e sua trupe só começou a fazer sucesso mundial com fase Z do anime lá pro início dos anos 2000, na Ásia a história era outra.

China, Taiwan, Filipinas e outros países do continente já estavam lendo e adorando as aventuras do Goku ainda criança, muito antes de Andróides e Saiyajins e Fusões! Não que isso fizesse muita diferença para os donos da marca já que isso era tudo na base da boa e velha pirataria. Isso mesmo, muito antes de scanlations e rips de bluray sem censura os caras já pirateavam o mangá de Dragon Ball físico, vendendo na banca mesmo! Numa qualidade porca e tradução questionável, mas a gente trabalha com o que tem, certo?

E agora você entende o contexto por trás do filme de hoje. O pessoal da Filmswell International de Taiwan achou que seria uma boa ideia basear seu próximo filme de kung-fu nas histórias de Goku e sua trupe. E faz sentido, não? Afinal, Dragon Ball nasceu como uma paródia/homenagem aos clichês de filmes de kung-fu dos anos 70! Mas aí encontramos um problema, o mesmo que os produtores do vindouro filme americano também encontraram: como diabos adaptar a história serializada de Dragon Ball numa estrutura de três atos?

Bom, os americanos engravatados “resolveram” (foco nas aspas) a questão mudando quase tudo até terem um roteiro que lembra um pouquinho a história original, mantendo basicamente só os nomes dos personagens… Mas nossos intrépidos amigos de Taiwan pensaram numa solução bem mais elegante: pra quê ficar criando um roteiro de filme pra Dragon Ball sendo que já existe um?

Em 1986 foi lançado no Japão Dragon Ball: A Lenda de Shenlong, filme animado que reconta o primeiro arco do mangá de forma mais coesa e com um vilão mais presente. E foi justamente daí que The Magic Begins (que de agora em diante vou chamar só de TMB) tirou quase todo seu conteúdo. A única diferença é que o design do vilão é mais próximo do Lúcifer do segundo filme, mas tudo bem.

Em mandarim (que é a língua falada em Taiwan, caso você achasse que eles falavam taiwanês) os nomes permaneceram os mesmo que já usavam no anime – Son Goku é Sun Wukong e por aí vai – mas é quando vamos assistir a dublagem americana que magia realmente começa, se é que me permitem o trocadilho.

Nosso protagonista Son Goku (que não tem rabo) é Monkey Boy, Bulma virou Seetoe, vovô Gohan (que está vivo nessa versão!) é Sparkles… Mas o melhor de todos é o Yamcha. Nosso querido (?) bandido do deserto, usuário do mortal rogafufuken ganhou o novo nome de WESTWOOD. Ah, e as Esferas do Dragão agora são Pérolas do Dragão, só pra deixar mais confuso mesmo.

Ao se deparar com um filme feito ilegalmente, com uma caracterização bem aleatória e nomes todos trocados vocês devem imaginar que se trata de algo péssimo, não é? Mas e se eu disser pra vocês que TMB é bom? Não “tão ruim que é bom” nem nada, apenas pura e simplesmente bom mesmo!

A história é simples mas funciona bem, dando propósito para todos os personagens. Os efeitos especiais são de baixo orçamento mas tão bons quanto possível (os caras não economizaram em explosões, tem uma a cada minuto!) e, claro, o TMB sabe focar no mais importante: LUTAS e COMÉDIA.

TMB manteve o kung-fu veloz e empolgante das primeiras fases do mangá (antes dos personagens passarem 4 episódios gritando e soltando raios) juntamente do humor escrachado e chulo que o Toriyama tanto gosta. Caramba, temos uma cena imensa do Mestre Kame (aqui simplesmente Turtle Man) dançando sua música-tema e depois tentando laçar a Nuvem Voadora! E a porradaria não fica atrás: o primeiro encontro de Goku e Yamcha foi de uma peleja rápida no original para uma cena longa com direito à Bastão Mágico e tudo mais. Diabos, até a Bulma mata um vilão usando uma bazuca.

TMB é um filme divertidíssimo pra quem curte cinema wuxia e ainda mais divertido pra quem é fã de Dragon Ball. O roteiro até consegue enfiar algumas referências à obra literária que inspirou Akira Toriyama, Jornada Para o Oeste (o filme deixa implícito que Goku e Oolong seriam descendentes de seus equivalentes da história clássica). E a melhor é parte é que como se trata de um filme não-oficial você pode assistir completinho no youtube sem nenhum peso na consciência.

E assim começam os Anos 20! Meu Porão continua bem cheio e vou continuar resgatando pérolas pra vocês… Tem até um outro filme pirata de Dragon Ball, feito na Coréia… Quem sabe depois, né? Até lá, lembrem-se que a fantástica aventura vai começar, neste mundo chance igual nunca mais terá!

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Sinopse:

Numa academia de estudantes super-dotados, Yusuke, Jou e Megumi desenvolvem um traje chamado Liveman e o testam em dois amigos. Porém, outros três alunos resolvem se aliar a um império de gênios do mal, e estes os fazem matar os dois amigos com os trajes. No dia da formatura, os gênios do Império Volt aparecem e destroem toda a academia. Os três estudantes que desenvolveram os trajes Liveman os pegam e passam a usá-los para defender o planeta de Volt como o Esquadrão das Super-Feras.

Já que estou jogando vocês do nada no meio de uma série (esse é o episódio 31, afinal!), acho que precisamos de um pouco de contexto: Choujuu Sentai Liveman (Esquadrão das Super-Feras Liveman) foi um dos Super Sentai que quaaase veio pro Brasil, sendo o sucessor de Maskman na terra do sol-nascente. O rapaz pimpão aí em cima é Junichi, o Green Sai (de rinoceronte). Ao contrário das equipes até então, Liveman começou apenas com 3 membros, com Junichi e o irmão se unindo aos demais no episódio 30. Ou seja, essa aqui é basicamente a primeira missão real do garoto…

Nossa história começa com os Livemen (Livemans? Sei lá qual o plural disso!) patrulhando a cidade quando são subitamente atacados pelo Império Volt. Todos saem ilesos, menos nosso pequeno Junichi que começa a ficar com a barriga inchada… Acho que pelo título do texto vocês já sacaram o que aconteceu com ele né? Pois é, nosso verdinho foi engravidado! O monstro Vega Zuno injetou sua “semente” em Junichi, e agora tem literalmente um bebê-alien crescendo em velocidade acelerada dentro dele. Ah, e eu mencionei que o monstro parece uma vagina?

Junichi fica completamente desesperado mas os Liveman, ao contrário de outros Sentai que eram todos militares ou artistas marciais, são cientistas! E eles não vão deixar essa situação saída de uma fanfic escrita por uma fangirl de 14 anos estragar sua missão, não senhor! Nossos heróis ligam para um especialista e levam Junichi para lá numa ambulância para fazer uma extração. Aliás, acho que usei o termo errado, preciso ser um tantinho mais claro. Os Power Rangers falavam “Hora de Morphar!”, e os Liveman falam HORA DE ABORTAR!

Para deleite dos conservadores pró-vida no caminho para o hospital acontece uma coisa ainda mais inusitada do que um homem grávido: o feto começa a falar! Com uma voz tremendamente perturbadora o fetinho começa a repetir “mamãe, por favor não me mate!” e “você não precisa me amar, mas eu quero viver!”. Parece até que o Desenhista Que Pensa escreveu o roteiro desse episódio. E ao ouvir as súplicas de seu filho(?), Junichi decide que vai sim dar à luz! E logo depois de uma grotesca cena os cidadãos comuns riem de um sujeito por ter uma barriga grande (o Japão dos anos 80 era muito maldoso), finalmente ele nasce! Mas calma, o bicho só sai da barriga do garoto através de um efeito especial e 100% formado, com o nome de Vega Baby. E ele é a cara da mãe. Se você olhar de longe. Depois usar ácido.

O plano dos vilões era que a criatura matasse os Livemen logo após nascer mas.. Oh! Vega Baby aprendeu sobre o amor e carinho enquanto estava dentro de Junichi! Ao invés de destruição ele só quer um abraço… Mas todos correm dele por ser, bem, a porra dum monstro grotesco. Mas antes que os mocinhos pudessem pedir desculpas por tratarem mal o bebê recém-nascido ele acaba sequestrado de volta pelos membros de Volt.

Vega Zuno fica puto quando percebe que seu filho não quer mais ser do mal e decide ir comprar cigarros pra nunca mais voltar. HA, ZUERA! Ele simplesmente mata o garoto mesmo. E bem na frente de Junichi, que só pode escutar seu bebê chamá-lo de “mamãe” uma última vez. Rola até uma canção de ninar enquanto o bichinho morre nos braços dele. (Eu não estou chorando por causa de um monstro-feto, cala a boca! PAREM DE ME JULGAR!) Junichi se transforma em Green Sai e desce o cacete no monstro, vingando seu “filho” e jurando proteger toda a vida. Ah e só pra garantir o clichê rola até um enterro pro bebê, com direito a um discurso sobre como Junichi “pôde aprender o que é ser mãe, mesmo sendo homem”.

Pensando bem esse episódio funcionaria prum especial de Dia das Mães, mas afinal nada combina mais com Dia dos Namorados do que uma gravidez indesejada, não é mesmo? Falando totalmente sério agora: esse episódio de Liveman é um dos mais bizarros de toda a franquia, e a melhor parte é que é tratado com o máximo de seriedade possível. Só mesmo um tokusatsu pra entregar um plot desses e não ser algum tipo de piada!

Liveman é uma das séries mais dramáticas da época, e mesmo com episódios curtos (menos de cerca de 19 minutos, incluindo abertura e encerramento) sempre consegue entregar um prato cheio – mesmo com premissas completamente toscas como a de hoje. E nada melhor pra fechar essa linda história do que a cara que o Jou faz quando a única mulher do grupo, Megumi diz que todos os homens deveriam “passar pelo o que Junichi passou ao menos uma vez”:

E esse foi mais um Porão do Tokusatsu! Espero que tenham curtido esse formato diferente, estou pensando em experimentar um pouco… Espero que todos tenham um ótimo Dia dos Namorados! Um segredinho meu: escolhi Liveman pra esse texto justamente porque a Colon foi uma das minhas primeiras crushes em tokusatsu. Ah, e ela é um robô.

Não me julguem!

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Sinopse:

“O cientista Dr. Kisaragi cria uma androide super-poderosa para salvar a Humanidade das garras da organização Panther Claw. Ela é Cutie Honey, a guerreira do amor e da justiça! Trabalhando em conjunto com a polícia japonesa, Honey une forças com Natsuko e Seiji, dois detetives que investigam os terríveis vilões e sua trama para dominação mundial.”

Antes de falar do filme acho que vale a pena apresentar a personagem já que muito otaku que se acha O fodão nem conhece… Vamos lá: Cutie Honey é mais uma das criações da mente ̶d̶o̶e̶n̶t̶i̶a̶ genial do nosso querido mestre Go Nagai. O mangá original de 1973 é o responsável por consolidar e dar base para muito dos clichês das chamadas Magical Girls, então se hoje em dia você gosta de Sailor Moon, passando por Sakura Cardcaptors e até as PreCures mais modernas pode agradecer ao pai do Devilman!

Mas não pense que Honey é só uma menininha doce (perdão pelo trocadilho, era inevitável) numa roupa apertada… Ela na verdade se trata de uma androide (ou ginoide, se você quiser ser pretensioso pra caramba) com uma porção de super-poderes. Além de ser super forte e ágil a maior arma de Honey é seu Honey Flash, habilidade de mudar de aparência ao apertar o broche em sua pescoceira. Ah, e como é um mangá de Go Nagai tem outro fator bem importante: muito, mas muuuuito humor sexual e de baixo calão!

Mas vamos no focar no filme em si. Cutie Honey na verdade é parte de uma grande comemoração de 30 anos do mangá original, também contando com o lançamento de um OVA especial chamado Re:Cutie Honey que funciona como uma história paralela – o filme utiliza até mesmo a mesma sequência de abertura! O filme foi produzido pelo famoso estúdio Gainax, contando inclusive com produção de Hideaki Anno. Sim, o cara de Evangelion! E lha que nem foi o último tokusatsu que ele dirigiu…

Quem for assistir despreocupadamente esse filme pode achar que se trata só de uma comédia nonsense com toneladas de fan-service. E não me levem a mal, o filme É essas coisas também… mas também é muito mais. O mundo de Cutie Honey é uma grande alegoria para a forma como a sociedade japonesa enxerga a sexualidade, algo que é paradoxalmente encorajado e proibido ao mesmo tempo. Temos heroínas e vilãs com uma “energia sexual” absurda sem nenhum pudor de tentar esconder isso. É tão exagerado que consegue até deixar um sujeito como eu desconfortável!

O filme não revolucionou a indústria do tokusatsu nem nada, mas é bastante competente. As cenas de ação são rápidas e os designs (propositalmente) ridículos ajudam a passar a ideia do mundo bizarro que os personagens estão. Como expliquei lá em cima é um filme com muitas piadinhas sexuais, então se esse tipo de coisa te ofende melhor nem tentar assistir… Ou pode ir atrás de alguma versão editada, aí o filme vai durar uns 10 minutos no máximo. Prático!

Bom meu povo, esse foi mais um Porão do Tokusatsu. Não faço a menor ideia de qual será o assunto do próximo, mas tenho certeza que pensarei em algo até lá. E você, já leu/assistiu alguma coisa de Cutie Honey? Se sim, fala aí nos comentários! Agora preciso ir reassistir Cutie Honey Universe…

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