Kokoro ga Sakebitagatterunda (tradução: O coração quer gritar) é um filme produzido pelo estúdio A-1 Pictures, dirigido por Tatsuyuki Nagai, com roteiro de Mari Okada (Ano Hana, Kiznaiver). Acompanhamos a história de Jun Naruse que precisa liberar seus verdadeiros sentimentos mas sempre acaba machucando as pessoas com suas palavras. Certo dia, ela encontra um ovo que alega que poderá ajudá-la, assim selando as palavras de Jun para que ela nunca mais possa falar. Anos passam e a vida de Jun começa a mudar quando ela precisa ajudar em um evento na escola. Assim ela descobre o poder da música e da amizade.

Portanto, de uma forma simples, Kokoro ga Sakebitagatterunda consegue trazer a importância da demonstração dos sentimentos de uma pessoa. Além de Jun, aprendemos com outros personagens que, possuem personalidades tão distintas, as dificuldades que eles podem sofrer ao lutarem com os seus sentimentos internos.  

O poder dos sentimentos

Começamos com o filme com a personagem Jun criança. Ela se culpa pela separação de seus pais porque acabou falando demais. De certa forma, ela cria uma fantasia em sua mente que um ovo a fez parar de falar. No entanto, mais para frente, entendemos que foi um trauma pessoal.

Assim, temos uma personagem em sua adolescência que não consegue falar. Quando Jun até tenta falar, que são em momentos que ela precisa se posicionar, como por exemplo, ela querer dizer que não quer ajudar no evento escolar, Jun acaba tendo dores de barriga por conta de sua ansiedade. A garota ainda tem problemas com sua mãe, as duas têm uma relação totalmente distante.

Enquanto o problema de Jun parece de uma forma mais diretamente ao espectador, os outros três personagens principais tem seus problemas demonstrados mais indiretamente. Takumi acreditou por muito tempo que não precisava contar o que realmente sentia. Nitou guardou sentimentos mal resolvidos do passado e Tasaki também tinha seus problemas de se relacionar. Os quatro personagens só começaram a entender a importância de demonstrar esses sentimentos quando se relacionam com a música, uma forma de passar uma mensagem através de certa melodia. 

Assim, os quatro personagens acabam envolvidos no clube executivo da comunidade para cuidarem do evento escolar e começam a produção de uma peça musical, inspirada em Somewhere Over the Rainbow, música cantada por Dorothy em O Mágico de Oz. 

Com a música, Jun consegue expressar seus sentimentos cantando, assim cria uma história de fantasia sobre o que passou quando criança e sobre a sua insegurança de não conseguir falar tudo que sente e pensa. Já Takumi busca melodias de outras músicas que conseguem encaixar com a história de Jun, transformando a história em uma música. Nitou e Tasaki também se envolvem na produção, mesmo de uma forma menos intensa que os dois outros personagens, mas começamos a entender as diferenças que causam na construção destes personagens. Nitou consegue potencializar seus sentimentos sobre Takumi, enquanto Tasaki tem seu controle, em busca de tentar fazer o melhor por todos.

Portanto, ao mesmo tempo que estes personagens possuem um meio para falar de seus sentimentos, que é pela música, a amizade entre os quatro darão também esse espaço necessário que os personagens precisavam para compartilhar esses sentimentos.  

A demonstração dos sentimentos pelo visual 

Outro ponto favorável no filme Kokoro ga Sakebitagatterunda é o seu visual. Primeiramente, conseguimos observar como a construção de cena tem certo impacto nas cores e sombras com base no clima da cena. Por exemplo, em cenas que temos a personagem Jun, temos um tom mais cinza, sem cor, trazendo o sentimento da protagonista sobre essa composição, de frieza e medo. Em algumas cenas com o Takumi, sempre percebemos Jun sobre a sombra e Takumi sobre a luz, identificando como o personagem pode trazer grande importância na vida de Jun.  

As cenas que Jun narra sobre sua história de como ela ter perdido a fala também são muito interessantes. A história é transformada em um tom de fantasia, juntando com a animação diferenciada, como se os desenhos tivessem sido retirados de um desenho infantil, mas com cores vibrantes e itens fantasiosos, como se fosse um conto de fadas. Isso tudo ajuda no tom de fantasia que o roteiro apresenta e que de certa forma, reforça a teoria de Jun de ter sido amaldiçoada, e não porque perder a fala fosse uma insegurança dela. 

Demonstrar o que pensamos e sentimos

Com um filme que transborda sentimentos, Kokoro ga Sakebitagatterunda é uma obra essencial para aqueles que gostam de acompanhar personagens que têm grandes mudanças durante uma história. Ao mesmo tempo, é uma história de ensinamentos sobre nossos sentimentos e relações pessoais, na segurança de que nossos sentimentos podem ser demonstrados, seja pela fala, música ou qualquer outro meio. 

Assim, podemos ligar essa mensagem diretamente com um roteiro ou uma história que foi feita para atingir diretamente alguém. Uma obra audiovisual tem uma das funções de trazer uma mensagem para seu espectador, seja de uma forma simples ou intensa. Portanto, enquanto Naruse Jun busca mostrar o que sente através da música, Mari Okada apresenta uma ideia por forma de roteiro, que acaba se transformando em anime por uma equipe técnica que quer potencializar essa mensagem com elementos técnicos e visuais, e atinge o público que ela quer que atinja com essa mensagem. 

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Hanasaku Iroha é um anime produzido pelo estúdio P.A. Works no ano de 2011, feito para celebrar o décimo aniversário do estúdio. O roteiro foi escrito por Mari Okada, mesma criadora de animes como Ano Hana (2011) e Kiznaiver (2016). O anime contou com 26 episódios. Acompanhamos a história de Ohana Matsumae, garota de 16 anos que mora em Tóquio. No entanto, sua mãe decide se mudar com seu novo namorado fazendo Ohana ter que viver com sua avó, proprietária de uma pousada chamada Kissuisō. Ohana, além de ir morar em um lugar totalmente novo, vai precisar trabalhar na pousada a pedido de sua avó. 

Desse modo, em busca de retratar a rotina da protagonista trabalhando em uma pousada, mostrando os conflitos que ela pode passar, Hanasaku Iroha é muito mais do que um anime rotineiro. A obra consegue desenvolver os personagens e construir laços importantes entre eles para o espectador criar empatia pelo enredo. Os problemas que Ohana e os outros personagens vão sofrer para cuidar da pousada podem ser simples e distantes de nós, mas tratado de uma forma singela, os sentimentos dos personagens são sentidos pelos espectadores.

A construção da empatia por Ohana

Somos primeiramente apresentamos a personagem Ohana. Ela vive em uma das cidades mais movimentada do Japão, Tóquio. A personagem tem sua rotina do dia a dia, pega o transporte público, vai a escola, faz suas tarefas domésticas para ajudar a mãe. Por mais que para nós passe a ideia que a rotina da garota é bem movimentada, para Ohana, é o ponto de conforto dela. Ela está acostumada ao dia a dia e ao ambiente. No entanto, tudo vai mudar quando a mãe de Ohana vai propor que a filha se mude para a pousada da avó.

Assim vemos a personagem saindo da sua zona de conforto. Em Kissuisō, a protagonista vai encontrar dificuldades em seu ambiente novo. Além de estudar em um novo colégio e conviver com pessoas novas, ela vai precisar trabalhar na pousada. Mesmo que ela já estava acostumada com tarefas domésticas, ela vai precisar seguir as regras rígidas de sua avó. Ohana assim vai encontrar dificuldades no começo, tendo conflitos com a maioria dos funcionários, clientes e fortemente com sua avó.

Portanto são nesses momentos de novos desafios em sua rotina que Ohana vai mostrar como ela pode se comportar. Muitas vezes, vemos reações inesperadas da protagonista mas sem ela fugir da proposta do personagem. Como por exemplo, Ohana ter que desistir das suas crenças pessoais para conseguir fazer o certo para  Kissuisō. Isso faz com que o espectador fique impressionado. Ohana também, algumas vezes pode se desanimar, mas ela consegue superar os problemas rotineiros de seu trabalho, onde é uma oportunidade de, não só a personagem melhorar psicologicamente, tendo essa oportunidade de crescer, mas também melhorar o relacionamento com os funcionários da pousada, em foco à avó. 

Um ponto crucial no anime para a construção de personagem da protagonista é a relação de Ohana com sua mãe, Setsuki. Começamos a perceber aos poucos que as duas tem problemas que deverão ser resolvidos. Assim, com o aprendizado que Ohana vai tendo em relação a sua nova vivência, ela vai conseguir enxergar com um novo olhar a relação com a mãe, tentando resolver os problemas para as duas conseguirem terem uma boa relação outra vez. O mesmo pode se considerar com Kouichi, o melhor amigo de Ohana em Tóquio que se declara para ela. Primeiramente, ela não responde a declaração do amigo, mas durante o anime, ela começa a refletir seus sentimentos pelo garoto vivendo dessa vez em um lugar totalmente longe do amigo. Ohana vai entender que, por meio de sua mãe, do Kouichi, e inclusive de sua avó, que ela precisa fortalecer e restabelecer suas relações pessoais.   

Desse modo, os pontos negativos na rotina e as relações de Ohana faz com que é revelado a verdadeira personagem para nós. Criamos empatia pela personagem por conta desses pontos negativos que Ohana passa durante sua nova rotina de trabalho. Começamos apreciar a rotina da garota, onde ela se dedica a melhorar suas qualidades, relacionamentos e melhorar principalmente a pousada da avó que pode ter chances de fechar. 

Um anime sobre família e a importância dessas relações

Além de criarmos empatia pela construção de personagem de Ohana, um ponto crucial em Hanasaku Iroha com certeza são as relações dos outros personagens que trabalham em Kissuisō, que vão se estabelecendo fortemente por conta da chegada de Ohana. A garota muda os personagens ao redor ao ponto que eles se sentem mais à vontade para serem mais abertos com os outros personagens, onde aquele ambiente se torne um espaço mais familiar.

Assim sendo, aos poucos essa importância vai crescendo até o clímax do anime, onde o Kissuisō tem chance de ser fechado. Todos ali vão querer trabalhar juntos para que a pousada não feche pois, para os personagens, não é apenas uma questão da perda do emprego mas também, a possível quebra de relações que eles construíram diante desse tempo. Nesse pequeno arco, Ohana vai precisar lutar por Kissuisō e mostrar para a avó a importância das relações que os funcionários construíram por conta do trabalho deles na pousada. 

Assim, podemos relacionar a construção dos outros personagens com o de Ohana. Todos ali tiveram uma mudança onde Ohana foi a catalisadora. Enquanto a personagem estava crescendo, todos ali mudaram também. Temos o exemplo de Nako e Minko, duas personagens bastante introvertidas, mas que começam a demonstrar o que pensam e sentem em relação a trabalho, estudos e até romance, como no caso de Minko. Até Yuina, amiga de Ohana na nova escola, que tem uma personalidade mais extrovertida e otimista, tem seus pensamentos mudados por conta da protagonista. Primeiramente, Yuna não sentia motivação para ajudar sua avó a cuidar da pousada, rival da Kissuisō. Mais tarde, ela se inspira na determinação de Ohana e decide aprender mais sobre a administração de pousadas. O mesmo pode ser levado em conta a avó e a mãe de Ohana, onde é mostrado que as duas também tem seus problemas mas a avó de Ohana, aos poucos, compreende Setsuki e isso pode ser considerado porque Ohana mudou a compreensão de sua avó. 

Por mais que são personagens que trabalham com algo que os espectadores não estão acostumados, acabamos sentindo empatia pela rotina dos personagens e as relações dos mesmos. Dessa forma, uma animação que tem a proposta de relatar o dia a dia de um trabalho de uma pousada consegue alcançar o seu objetivo quando o espectador sente atraído pelo enredo. E de toda forma, Hanasaku Iroha é um anime de aprendizados, onde a mensagem principal é a importância de priorizar essas relações pessoais, tendo apoio dessas pessoas para conseguir seguir em frente com seus sonhos. 

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