Amor e Outros Dramas (Our Blues) é uma série de 20 episódios disponível na Netflix que mais parece um compilado de mini-dramas se encontrando. O kdrama caminha entre a rotina de vários moradores da ilha de Jeju, na Coreia do Sul, e troca o protagonismo em diversos momentos. 

Isso é perfeito porque você pode maratonar um mini-plot por vez, acompanhando a história de maneira rápida e devagar ao mesmo tempo.

Na maioria das vezes, a cada dois episódios tem um foco em um relacionamento. O que faz com que um ou mais personagens tenham um bom destaque e a pessoa que está assistindo também consiga entender melhor eles. 

E, sério, esse é um drama mesmo, porque traz momentos de sofrência para todo mundo. (Bônus do golpe final no último episódio que quebra quem está assistindo com a mensagem de conclusão) 

Esse dorama é muito diferente e aqui vão os motivos para assistir:

Problemas reais para caramba

Uma das grandes sacadas desse kdrama é trabalhar com problemas que fogem do conceito fantástico de algumas tramas. Não precisa de muita firula para nos emocionar, basta contar histórias de pessoas com o coração. E aí mostrar como as pessoas do mundo real reagem.

É como se fosse uma câmera escondida acompanhando a vida de pessoas que moram no interior da Coreia do Sul. Está tudo muito bom, muito bem e aí o cinegrafista chega de mansinho para mostrar os detalhes.

E é aqui que é importante trazer uma análise do título.

Na versão original, o título é o mesmo que em inglês. “Our Blues” literalmente seria “Nossos Azuis”, mas entende-se algo como “Nossas Melancolias”, pois o azul é associado com a tristeza em expressões como essa.

Já em português, ficou como “Amor e Outros Dramas”. Uma bela adaptação, já que o amor pode, sim, trazer dor e cada história é um drama diferente. E, olha, faz bastante sentido com as histórias.

Ao longo de cada trajetória, o kdrama mostra como cada pessoa aprende ou não a lidar com o que a estava atormentando naquele momento. Além disso, entrega de bandeja a complexidade de viver como um ser humano e ter que lidar com outros. As consequências aqui são tão realistas que chegam a doer.

Sentimentos são… um treco muito doido

Our Blues não é feito para seguir exemplos do que seria o correto, o errado ou a ideia mais maluca a se fazer, na maior parte do tempo. O drama mexe mesmo com o fato de todos os personagens serem humanos e, assim, nem tudo vai ser preto no branco.

A construção das cenas coloca a gente lá no meio para ter empatia com cada um. Ainda que seja possível não gostar das escolhas tomadas ou da forma como um ou outro age. (Eu, por exemplo, não aprovei muita coisa que foi decidida ali. Mas chorei com cada desdobramento)

Vale muito a pena perceber a forma que cada personagem enxerga o mundo e como que as situações atingem eles.

Mini histórias

O conceito de trazer um novo caso a cada um ou mais episódios é sinceramente uma maravilha para quem se cansa fácil de uma história. E o bom é que a gente não precisa necessariamente ter personagens novos toda hora.

Já existem várias séries asiáticas desse jeito, inclusive que contam várias histórias que se juntam como o caso de Amor e Outros Dramas. Exemplo disso é o dorama As Diversas Faces de Ito. (Leia aqui o review!)

Amor e Outros Dramas pode ser dividido em núcleos que envolvem direta e indiretamente 14 personagens principais (os que estão na foto do início do artigo, hehe).  Não tem aquilo de “terminou a história 1, agora começa a 2”, pois todas continuam. Assim, fica um drama bem dinâmico com a gente vendo o que acontece com as pessoas depois do foco. Lembra bem uma novelinha que não tem final feliz, fechado ou trágico.

Temas que precisam ser falados

Amor e Outros Dramas aborda pautas que vão desde a necessidade de transparência num relacionamento à forma como a depressão é encarada. A trama tem personagens que são sensíveis, outros que possuem uma dor encrustada desde jovens. Além disso, pessoas com deficiências não foram deixadas de lado aqui apesar de não serem parte do elenco principal.

Protagonismo de todas as idades

Tem romance adolescente, tem vovó que viveu muito, tem a galera do cinquentão e não é um drama com cara de série bobinha de 500 episódios nada com nada recheados de piadocas chatas.

Amor e Outros Dramas vem com um panorama da vida em várias etapas. A melhor parte é perceber os comportamentos das pessoas e como tem coisa que ainda pode mudar ou que nunca vai mudar mesmo. É muito divertido ver a interação de todo mundo ali como se fossem uma grande família mas ao mesmo tempo não sendo.

Atrizes e atores muito bons

E, para finalizar muito bem, não poderia faltar um tópico sobre esse elenco maravilhoso.

Você provavelmente já deve ter visto alguma obra com pelo menos um dos atores de Amor e Outros Dramas, se já conhece outros kdramas. Não precisa nem ser dorameira de plantão, basta ter visto um dos dramas mais famosos, como Round 6.

Além disso, a série mostrou que dá para ser bom em suas primeiras atuações na TV. A atriz mirim que interpreta a netinha de uma das personagens esbanjou fofura, por exemplo!

Dentre os personagens principais estão grandes estrelas como:

• Go Doo Shim (Para Sempre Camélia e Legendary Witch),
• Lee Byung Hun (Round 6 e Mr. Sunshine),
• Han Ji Min (Hyde, Jekyll, Me e Rooftop Prince),
• Lee Jung Eun (Mr. Sunshine e Weightlifting Fairy Kim Bok Joo),
• Shin Min Ah ( Hometown Cha-Cha-Cha e  Oh My Venus),
• Kim Woo Bin (The Heirs e To the Beautiful You) e outros!

Vai perder esse povo todo?

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Antes, uma historinha!

Eu já tive um chefe que me inspirava e assistir a essa série me trouxe boas lembranças. Sabemos que não tem como agradar todo mundo e que é difícil encontrar pessoas que tenham empatia de verdade. Assim como Park Saeroyi, o protagonista da história principal de Itaewon Class, esse meu chefe tinha muitas características que faziam a equipe se sentir bem.

Toda reunião que tínhamos ele nos deixava motivados, por isso mesmo ir trabalhar era uma atividade que me deixava feliz, de certa forma. Isso porque mesmo que soubéssemos que seria um dia tenso, que o trabalho seria pesado ou que algo cairia na nossa cabeça, o apoio desse chefe e a rede de amizade que nutrimos como equipe me deixava em paz.

Não era só isso. Todos na equipe faziam de tudo para segurar as pontas e para manter o clima o melhor possível. Eram pessoas com quem se podia dividir desde a notícia do dia até tristezas e alegrias. Cada um ali sentia o calor humano e tinha uma sensação de proteção e carinho que partia do chefe e se estendia aos colegas. Talvez isso tornasse possível perceber o esforço do grupo para que, ainda que parecesse que algo ruim fosse acontecer, não tivesse um impacto estrondoso e temível.

Onde quero chegar com isso?

Simples: eu realmente gostava de entregar resultados naquela equipe. Mais do que tudo, queria ser tão boa pessoa quanto meu chefe. Não se tratava somente de eficiência e sim do pacote completo. Convenhamos, passamos a maior parte do nosso dia junto aos nossos colegas de trabalho e tornar esse tempo de qualidade não é qualquer um que consegue. 

Enfim, esse meu chefe tinha um pensamento que é um dos principais temas deste kdrama: nós estamos lidando com pessoas. Parece até redundante falar isso e até achamos meio óbvio de entender, mas cada vez mais tratamos nossas obrigações, nossas vidas e tudo mais, com um olhar que transforma tudo em algo menor, somente rotina. Nos deixamos ser levados pelo dia-a-dia e esquecemos do que faz a humanidade ser boa: a simpatia, empatia, o prestar atenção e o querer bem.

E se tem uma coisa que esse kdrama me chamou a atenção foi a mentalidade e o mote de se pensar nos outros. Não daquela forma de querer fazer tudo por todos, mas sim de ajudar no que puder e ser um ponto de apoio, entendendo que nem todos pensam igual. De ser uma pessoa que se importa, mas que aceita as escolhas pessoais dos colegas, sabe?

E a vingança entra onde nisso?

Aí, você, que leu o título desse texto já deve estar se perguntando: fala de humanidade ser boa mas o que tem de vingança? É, essa série parece pregar pegadinhas. Itaewon Class atrai com as cenas fortes, mas conquista com o coração do protagonista.

Realmente, à primeira vista, essa é mais uma daquelas séries aclamadas em que o personagem principal bota para quebrar depois de ter sofrido horrores. Mas não se engane, a maneira como planejam a vingança é simplesmente boa demais para ser verdade. E percebemos com o andar da carruagem que realmente foi pensada com uma ideologia muito bonita que nos faz torcer ainda mais pela vingança e por grande parte do elenco.

Os dois lados da moeda no plot:

Esse kdrama, em outras palavras, contém uma mistura do plot de vingança, assim como outros clichês indispensáveis em doramas, com uma visão de tornar a vida mais leve. O conforto e o tapa na cara nos atingem no mesmo nível, enquanto pautas importantes são abordadas sem tabu e humanizadas. As personagens não estão longe de nós, pelo menos a maioria delas, como imaginamos. E a todo momento a máxima de se pensar nos outros vem à tona. 

Apesar de ter o grande vilão da história, aquele malfeitor, o cara babaca, etc e tal, a criação de personagens ali é muito mais legal do que parece inicialmente. Itaewon Class traz gente de todos os jeitos, com seus pensamentos, formas de agir e pensar. Não tem problema você pensar em si mesmo, não tem problema você ser bobão. 

A sinergia de valores e opiniões constrói uma “aula” que normalmente só aprendemos na rua. Está aí uma boa analogia, visto que Itaewon é conhecida como a área em Seul, na Coreia do Sul em que as pessoas são livres (e onde os estrangeiros se reúnem). Assim como mostra a história de Itaewon Class, a vida é toda contorcida e cheia de encontros diferentes. Só nos resta aprender a lidar com eles.

E, voltando ao assunto geral do kdrama, o nosso sonhador e insistente protagonista consegue trazer muito bem essa questão. Ainda que pareça que o protagonismo é de todos, só pelo fato de estar lá, ele é importante e transforma. É muito gratificante ver como todos caminham junto, como equipe, em Itaewon Class. E essa imagem aqui, para mim, é o que mais representa o sentimento que a série tenta passar: 

Dessa forma nós temos aqui uma das conclusões, que acho, mais belas em várias histórias: a de aprender com o que aconteceu e de não retaliar do mesmo jeito que chegou para você. Nada de simplesmente aceitar, deixar para lá ou ficar passando mal com um sentimento sufocante, mas não deixar que aquilo destrua a sua vida e a de outros a qualquer custo. 

Ou seja…

Ter um objetivo grandioso como uma vingança pode ser um impulso para tirar a vida da mesmice, mas acima de tudo, viver bem e aproveitar o melhor que as relações humanas podem nos dar ainda é o essencial. Talvez as pessoas que vivam com mais qualidade sejam aquelas que aprendem isso e conseguem trazer uma leveza sem abrir mão dos seus conceitos, pensamentos e valores. (E ainda saber muito bem colocar os pingos nos is para demonstrar desaprovação por ações ridículas). 

Itaewon Class é um kdrama que é bem construído e impacta de várias formas. Esse texto foi somente sobre uma parte dentre tantas características que fazem valer a pena assistir. Bem, como eu disse no começo do texto, essa série me trouxe boas memórias e passou uma mensagem que aqueceu bem o meu coração. Por isso espero que você que leu até aqui também sinta isso um dia. Afinal, ser acolhido e passar adiante que tudo o que fazemos envolve pessoas… é tão maravilhoso! (E as pessoas são a razão de tudo, né)

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