The post Sexta Temporada de BoJack Horseman (Parte 2): o doloroso final first appeared on Animes Online BR.
]]>Na primeira vez que eu assisti à abertura de BoJack Horseman, a sua estética deixou-me hipnotizada. A música instrumental composta por Patrick e Ralph Carney carregada de melancolia e saudosismo, mesclada aos visuais da rotina doentia e vazia do protagonista estabeleciam um padrão deprimente e intrigante que culminava no afogamento do personagem equino. Quem diria que desde o início o fim já estava à mostra?
Após a quinta temporada acabar e a sexta ser anunciada como a última, fiquei curiosa em como a equipe arrumaria as pontas soltas e se despediria de seu longevo projeto de sucesso. Diferentemente das produções anteriores de 12 episódios, a temporada final conta com 16, e foi dividida em duas partes. Semana passada, alcancei a primeira, e sexta passada, 31 de janeiro, vi a segunda.
Após finalmente trabalhar sua atitude e manter sua sobriedade, BoJack está em um lugar melhor. Afastado de Los Angeles, ele agora trabalha como professor universitário em Connecticut. Tudo parece bem, até que seu passado aparece para prestar conta. Todos os seus pecados (em evidência a morte da Sarah Lynn) batem à porta graças a uma investigação jornalística e agora só resta responder pelos erros.
Como nada é fácil, as coisas eventualmente dão errado. Por mais que ele responda à matéria da maneira mais responsável possível, as evidências de seus atos mais hediondos falam mais alto. BoJack tenta manter a cabeça erguida em meio a esse mar de lama, mas após sua irmã Hollyhock cortar todo o contato com ele, finalmente ele mergulha no desespero. Na sua decadente espiral de horror, ele finalmente realiza o que parece seu último ato: afogar-se na piscina como a abertura sugere.
Faria sentido acabar a série naquele momento, sua morte funcionando como o ponto final da sua existência. Entretanto, o que os realizadores executaram encaixou muito, muito melhor. Levando em conta seu compromisso com a verossimilhança, uma resposta mais complexa e genuína veio à tona: a vida simplesmente continuou. Ele sobreviveu e, agora na prisão por invadir propriedade privada, paga verdadeiramente pelas suas ações. O último episódio, o qual só utiliza as vozes do elenco principal (BoJack, Princess Carolyn, Diane, Mr. Peanutbutter, e Todd) ilustra isso perfeitamente.
Como se despedisse de cada um deles em particular, ele observa como eles seguiram adiante, adaptando-se a novas situações e tornando-se as melhores versões deles mesmos. De certa maneira, todos eles o deixaram para trás. Mr. Peanutbutter percebeu suas tendências de co-dependência e sente-se suficiente sozinho agora. Todd tomou as rédeas da sua vida e não mais necessita da boa vontade alheia. Princess Carolyn não mais vai trabalhar como sua agente resolvendo todos os seus problemas. Por fim, Diane resolve cortar contato, grata por ele ter feito parte de um momento da sua história, todavia tóxico demais para continuar seu amigo.
É nesse ambiguidade que BoJack Horseman acaba: seu tom triste ainda que esperançoso ilustra a natureza humana. Temos o poder de seguir adiante e, se cairmos na nossa jornada, precisamos ter a responsabilidade para nos erguer de maneira sadia. Não houve um desfecho de fato, nem todas as respostas foram dadas, só nos foi dada a promessa de muitas possibilidades. Como o personagem titular disse há muito tempo, “Desfecho é uma coisa criada pelo Steven Spielberg para vender ingressos de cinema. É como o verdadeiro amor e as olimpíadas de Munique: não existe no mundo real. A única coisa que pode fazer agora é viver a sua vida.”
Sentirei falta dessa incrível série que me arrancou tantas risadas como lágrimas. Foi um prazer abordá-la semanalmente, no entanto é hora de seguir em frente, rumo ao novo dia. Deixo vocês com a música de finalização do último episódio, Mr. Blue da Catherine Feeny.
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Você pode assistir a BoJack Horseman no serviço de streaming da Netflix.
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]]>The post 6ª temporada de BoJack Horseman (Parte 1): Uma pausa para respirar first appeared on Animes Online BR.
]]>No decurso dessa série semanal de críticas, é notável o meu foco na tragédia do protagonista equino. Intencionalmente, explorei estritamente a jornada de grandes desgraças e pequenas vitórias de BoJack, afinal através de suas ações pudemos examinar com atenção os temas que a equipe por trás da série quis abordar: mudança, responsabilidade, saúde mental, relacionamentos de quaisquer naturezas, entre outras. Ele, mais do que o resto do elenco, recusava autocrítica e essa impassividade movia a história, ainda que de uma maneira torta. Nesta nova fase, até que enfim!, ele pode alcançar seus amigos, e todos os arcos narrativos podem se fechar.
De qualquer forma, não poderia deixar passar a oportunidade de fazer alguns breves comentários sobre o elenco principal. No caso do personagem central que aqui ainda não havia mencionado, Todd Chavez (Aaron Paul) – um sujeito que simplesmente acabou morando no sofá do BoJack por anos a fio – a progressão narrativa foi a menos linear. Como se os criadores não tivessem um propósito claro para ele, Todd passa por aventuras bizarras mantendo seu bom humor e sua disposição. Desde sempre atencioso, ele brilha com sua atitude humana e, ao final da sua rota, ele está confortável com a sua identidade assexual e seu lugar no mundo.
Princess Carolyn, a minha personagem favorita inclusive, sempre foi uma gata inquieta, ansiosa para conquistar o mundo completamente independente. Por essa razão, seus relacionamentos amorosos explorados duraram tão pouco: ela não se permitiu ser vulnerável. Quando realizou afinal seu sonho de ser mãe (adotando a pequena Ruthie), Princess Carolyn aceitou que não precisa fazer tudo sozinha.
Os dois principais a seguir são o ex-casal Mr. Peanutbutter e Diane Nguyen. Ele é um Labrador Retriever risonho que também é mais incapaz de auto-crítica que o BoJack (sim); ela uma sarcástica e melancólica escritora humana. Ela não comunicava muito suas necessidades, e ele não ouvia quando ela falava. Fadados ao fracasso, divorciam-se e cada um segue ao seu canto, prontos para um novo relacionamento que podem se sentir como eles mesmos.
BoJack, por fim, aceita os erros do passado e tenta seguir adiante sem empurrar tudo para debaixo do tapete. É isso: todos encaminhados e a cada dia tornando-se pessoas melhores do que foram no dia anterior. O último episódio dá pistas que essas boas vibrações não vão durar muito na metade final da sexta temporada, porém foi muito bom enquanto durou.
Em retrospectiva, chegar ao final de um ciclo nunca é fácil. Após semanas revendo episódios centrais de BoJack Horseman, apaixonando-me novamente pelos dilemas dos personagens e como esses são explorados no programa, alcançar a última etapa deixa-me extremamente saudosa, mesmo ainda não tendo assistido ao desfecho de fato. Semana que vem, eu devo estar pior. Mal posso esperar.
Você pode assistir a BoJack Horseman no serviço de streaming da Netflix.
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]]>The post Quinta temporada de BoJack Horseman: é preciso ter asas quando se ama o abismo first appeared on Animes Online BR.
]]>BoJack Horseman, tanto a série como seu personagem titular, sempre gostou de mergulhar em situações de ambiguidade moral, questionar até onde é possível alguém ser salvo de sua própria ruína. Empurrando seu elenco ladeira abaixo, fazendo-os cair em novas sagas de desgraça, o programa testa os limites do vazio humano que nos compele a realizar atrocidades nos momentos de fraqueza. No entanto, caro leitor, isso é algo que você já sabe. Após quatro temporadas de misérias, o que mais o show do Cavalo Triste pode oferecer? Eu digo a você, então: o fundo do poço.
Após lidar com inúmeras adversidades, e cada vez um pouco pior por isso, BoJack começa a misturar ficção e realidade na produção de Philbert, um seriado policial cujo personagem principal é viciado em remédios e tem uma vida muito conturbada. De maneira metaliguística, vemos os efeitos de como a culpa das suas ações aleijam seu desenvolvimento emocional. Ansioso e confuso, BoJack tenta fazer o certo, mas é difícil quando os limites se tornam turvos.
Após seu envolvimento com Hollyhock, revelada sua meia-irmã ao final da temporada anterior, BoJack aparenta buscar maneiras de “se consertar”, ser um indivíduo melhor. Ele tenta, eu juro, mas é muito infeliz. Sempre à beira do abismo existencial, ele se agarra futilmente às beiradas para não cair – focando-se no seu trabalho e em suas relações, até o momento que tropeça e a queda livre começa. Não vou revelar particularmente o que acontece, porém é o momento que BoJack aceita a ajuda que precisa para mudar, e desta vez de verdade.
No capítulo mais doloroso da temporada (“Churro grátis”), BoJack realiza um monólogo no enterro da sua mãe, extremamente abusiva em vida. Carregado de emoções conflitantes, ele faz perguntas sobre a natureza falha dos seus pais na morte de Beatrice Sugarman. As respostas nunca vêm, mas conseguimos contemplar o quanto esse tipo de criação afeta o desenvolvimento psicossocial. Ao longo da meia hora do episódio, vemos o ressentimento, a culpa, a dor, e o afeto torpe construído naquele lar quebrado. Em uma breve frase em seu grande solilóquio, BoJack consegue sumarizar com perfeição o tipo de relação que ele teve com seus pais: “Nós três estávamos nos afogando, e não sabíamos como salvar uns aos outros, mas havia um entendimento que nós estávamos afogando juntos.”
Lenta e gradualmente, após acompanhar este cavalo por cinco anos, observamos ele se aproximar do abismo, meramente abraçando suas piores partes sem auto-crítica até o instante que tudo se desfaz e ele percebe que, sozinho, as coisas só pioram. Ao final da temporada, finalmente ele se encaminha à clínica de reabilitação para reavaliar seu comportamento tóxico e seus vícios.
Neste momento, recorro a um aforismo do filósofo alemão niilista Nietzsche, esse mencionado no título do texto: “é preciso ter asas quando se ama o abismo”. Por toda a sua vida, BoJack andou de mãos dadas com a tragédia, utilizando-a como uma justificativa para não mudar, para se manter nessa desconfortável zona de conforto. Para escapar desse antro tóxico, foi necessário um esforço descomunal, e, como se crescessem asas, ele foge desse terror, ascendendo para a sua recuperação.
Sombria e cruel, a quinta temporada lida muito bem com a temática da responsabilidade dos atos (ou pelo menos a busca por essa responsabilidade), aventurando-se nos cantos mais sombrios da alma do protagonista no seu momento de ruptura. Alçando seu voo, BoJack finalmente começa sua rota da redenção.
Você pode assistir a BoJack Horseman no serviço de streaming da Netflix.
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]]>The post Quarta Temporada de BoJack Horseman: os traumas que herdamos first appeared on Animes Online BR.
]]>Após se afundar na culpa pela morte de Sarah Lynn na temporada passada, BoJack – o personagem, não a série – chega à conclusão de que ele é tóxico. Em suas palavras, “Sou venenoso. Nasci no veneno, tenho veneno dentro de mim e destruo tudo que toco.” Uma definição tão cruel exige explicações: qual seu relacionamento com sua família? Como foi seu lar na infância? Onde eles estão? Aqui entra Beatrice Sugarman e Hollyhock Manheim-Mannheim-Guerrero-Robinson-Zilberschlag-Hsung-Fonzarelli-McQuack (sim, o nome é grande assim mesmo e não vou repetí-lo na íntegra).
Beatrice (Wendie Malick) é a mãe do nosso protagonista: distante, negativa, e até violenta em vários momentos. Graças aos flashbacks à juventude do BoJack, conseguimos compreender a natureza da sua toxicidade herdada aos berros, entender de onde vêm as cicatrizes emocionais as quais aleijaram o personagem. Mais do que isso, conseguimos examinar como essa imponência assustadora se converteu em pura indiferença na frágil velhice.
Do outro lado do espectro, é introduzida a Hollyhock (Aparna Nancherla), suposta filha do BoJack. Criada por oito amáveis pais adotivos, ela busca respostas sobre a sua herança familiar genética. Levando em conta que eles não se conheciam por tanto tempo, BoJack não sabe como lidar com ela, uma pessoa que ainda não havia sido tocada pelo seu veneno, cujo futuro ainda parece promissor.
Diante dessas duas figuras femininas, é possível observar a noção de legado do personagem titular. Se na temporada anterior ele se perguntou como ele poderia ser lembrado pelo seu trabalho, esta questão é tratada de maneira mais íntima, através de sua noção de família. Ele é uma pilha de nervos ansiosa e desregrada, nascido em um lar venenoso, e agora teme repetir os erros de seus pais.
Dentre todos capítulos abordados nesta série de críticas, eu soube que o quarto seria o meu favorito de abordar. Desde a sua estréia em 2017, eu me pego pensando em como a narrativa alcançou um novo nível de polidez e criatividade. A animação, que não é exatamente o forte do programa, explora técnicas para ilustrar mais efetivamente as emoções sentidas pelos personagens – em especial, a ansiedade do BoJack, como podemos ver abaixo:
BoJack Horseman é o tipo de produção que só consegue ficar melhor. O roteiro é estonteante, os diálogos são carregados de significado e franqueza, a narrativa é sólida, e a execução da proposta é simplesmente incrível.
Ademais, os personagens (mesmo os que menos abordo aqui pois extrapolam o tema principal da temporada) evoluem de maneira orgânica e bela, fazendo o espectador sentir o peso das ações. Não há ponto sem nó: mesmo a humanidade da cruel Beatrice é explorada, mergulhando na história do abuso que ela sofreu e então perpetuou na criação do BoJack. Ela é algoz, porém também vítima, e, como seu filho, carrega suas cicatrizes.
Acima de tudo, há algo de genuíno na representação deste desenho de um abuso que é perpetuado por gerações: as nuances de como os traumas acumulados se refletem nas agressões e falsas promessas de afeto. É quase elegante como é tratado esse tópico sensível, sem dar desculpas aos atos monstruosos, porém ilustrando a complexa figura mental dessa pessoa.
BoJack recebeu de herança dos seus pais uma enorme bagagem emocional negativa. Enquanto ainda há tempo, resta a ele decidir se ele vai conseguir se livrar dela.
Você pode assistir a BoJack Horseman pelo serviço de streaming da Netflix.
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]]>The post Terceira Temporada de BoJack Horseman: como serei lembrado? first appeared on Animes Online BR.
]]>Atenção: spoilers à frente
O que oferecer ao homem no topo do mundo? Após o protagonista ser conhecido por décadas apenas como “aquele cavalo daquele seriado dos anos 90”, a terceira temporada série BoJack Horseman oferece um novo desafio: “e agora o quê?”. A biografia dele foi um estrondoso sucesso e seu filme “Secretariat” também, resultando numa possível indicação à grandiosa estatueta do Óscar. Sem filhos, parentes próximos, e com a maioria dos seus amigos alienados por suas ações tóxicas, a esperança do prêmio significa algum tipo de marca no mundo, talvez uma forma de ser lembrado no futuro. Se você vem acompanhando o programa com atenção, não há nenhuma surpresa no fato de que tudo dá errado.
Não mentirei, leitor: essa temporada foi a mais difícil de definir. Além do fato de que já passaram 4 anos desde a sua estreia em 2016, sua temática central construída ao redor da memória se revela de maneira bastante sutil. Ao longo dos episódios, a série apresenta flashbacks para o ano de 2007, quando BoJack tentava produzir uma nova série completamente diferente do show que o levou ao estrelato – mais íntimo e “digno de sua arte”. A partir dessa sequência de lembranças, vemos como parte o coração do cavalo descobrir que ele mesmo não é tão especial como ele pensa.
Cada vez mais isolado, ele se agarra ao passado, afinal, nessa hora, é tudo que ele tem. Nenhuma linha narrativa nesta temporada explora melhor essa tragédia do que a conclusão da história da Sarah Lynn, uma atriz mirim que fez parte do elenco do Horsin’ Around e se tornou uma celebridade pop star. Similar à Lindsay Lohan, ela passou por fases de intenso uso de drogas e inúmeras reabilitações, considerada por muitos uma bomba relógio. É implicada muitas vezes a sua infelicidade e como o uso de narcóticos é o alívio dessa sua existência repleta de dor. Após nove meses limpa, o tóxico BoJack a chama para uma farra extrema cuja duração é de, pelo menos, seis semanas.
Sarah Lynn morre. Pessoalmente, foi um momento que me quebrou. Interpretada de maneira brilhante pela jovial Kristen Schaal, consagrada sobretudo pela sua interpretação como Mabel Pines em Gravity Falls, foi um choque ver a tão caótica jovem abrasiva que aparece em diferentes instantes da série falecer tão insatisfeita, querendo ser uma arquiteta ao invés de uma ganhadora do Óscar. A sua overdose, um ponto tão emblemático no show, é tratado com franca sensibilidade e o choque de sua morte quieta ao final do episódio 12 é construído magistralmente. Em entrevista à Vanity Fair, criador Raphael Bob-Waksberg foi perguntado se ele foi longe demais com essa história. A sua resposta ilustra bem o cuidado que a equipe tem ao lidar com esse tipo de desgraça:
“Hm, é, você sabe… Não. [ri] Eu não me preocupo com isso, porque, pessoalmente, eu sinto que foi conquistado [o uso dessa linha narrativa]. Não passa a sensação de que foi, tipo, chocante apenas para causar. São dadas grandes pistas em cima de todas as aparições que Sarah Lynn já fez. Mas também acho que a esse ponto, conquistamos a confiança dos espectadores. Nós sabemos que é algo grande; não estamos tratando levianamente. As coisas que acontecem neste universo têm peso, também têm significado, e nós tomamos responsabilidade por isso. Mesmo no último episódio você vê a culpa [do BoJack] reverberar, e como isso afeta a sua capacidade de participar num novo programa.”
Chegando à sua terceira parte, BoJack continua extremamente desafiador, charmoso, sombrio, e hilário. Sem jamais abdicar das risadas nem das lágrimas, o roteiro desenvolve as narrativas de forma competente, distribuindo socos na boca do estômago do público com a graça de dançarinos de balé profissionais. Cada vez mais mordaz e genuína, a série define sobriamente ao longo dos capítulos seu legado tragicômico atravessado pela toxicidade do seu protagonista.
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The post Terceira Temporada de BoJack Horseman: como serei lembrado? first appeared on Animes Online BR.
]]>The post Segunda Temporada de BoJack Horseman: o tempo como prisão first appeared on Animes Online BR.
]]>A primeira temporada, como abordei semana passada, conclui com o personagem epônimo confrontando alguns dos seus atos perversos do passado, graças ao desenvolvimento e à publicação da sua biografia. Preso a um ciclo infinito de auto-abuso e punição, ele age como um buraco negro de problemas que atrai todos que o cercam. Além disso tudo, agora Hollywood é conhecido como Hollywoo porque o “D” foi roubado. Para onde agora seguir?
BoJack, o protagonista não a animação, diante do sucesso estrondoso da sua biografia, começa a chamar atenção de produtores para a realização de projetos, conseguindo até o papel dos seus sonhos, o de Secretariat, seu herói de infância. Nessa onda de positividade, BoJack assume uma nova postura e alega estar cortando os hábitos ruins da sua vida – no entanto, sem aplicar auto-crítica ou algo dessa natureza. Como desejos vazios de ano novo falados por hipócritas, sua resolução de “novo BoJack” são apenas palavras.
Incapaz de desviar de seus vícios, mesmo em novos contextos, BoJack torna o tempo estático, como a sitcom episódica que o tornou tão famoso nos anos 90, Horsin’ Around. Entretanto, ainda que esse status quo de auto-depreciação e miséria obriguem o personagem a continuar na situação precária onde ele se encontra, suas ações não estão em um vácuo e, eventualmente, as consequências o atingem. Ele vai ser obrigado a aprender alguma coisa para cessar essa agonia existencial herdada pelos seus vícios.
O resto do elenco colabora com a temática narrativa da necessidade de mudança e de quebrar ciclos. Por exemplo, a agente de BoJack, Princess Carolyn (Amy Sedaris), uma gata sobrecarregada de funções, ao tentar sair da sua agência, afunda-se em novos problemas. Outro caso é da Diane, que insatisfeita com seu trabalho e sua contribuição para a sociedade, entra numa fase auto-destrutiva, o que afeta especialmente seu casamento com o Mr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins). Presas aos seus métodos, apenas a revisão de suas ações permite a superação.
BoJack, no entanto, ainda está preso ao seu momento no tempo, e, aparentemente, parou de crescer e tomar responsabilidade por seus atos. Ao namorar a coruja Wanda (Lisa Kudrow), ele tenta se ater a valores antigos. Quando tentou reconectar com uma velha amiga, causou um mal tão tremendo à família dela que dá a impressão dele ser um parasita que leva a peste por onde ele vai. O problema, todos os sinais apontam, é ele. Ele e sua recusa em mudar. Perdido em algum momento nos anos 90, BoJack toma o tempo como sua prisão, seus momentos de glória funcionando como carcereiros, impedindo quaisquer alterações em seu modo de ser. Às vezes, ele chega tão perto de uma melhora, mas parece pensar que ele mesmo não vale a pena o esforço
A segunda temporada de BoJack Horseman é ainda mais deprimente que a anterior, alcançando lugares extremamente sombrios. Sua narrativa está ainda mais mordaz e ácida, com sua escrita mais refinada e um ritmo superior que proporciona momentos brilhantes. Se eu já adorei a primeira temporada, essa daqui foi o que cimentou de vez a minha paixão pelo desenho com sua bizarra e charmosa história. Um verdadeiro espetáculo trágico.
Você pode assistir a BoJack Horseman pelo serviço de streaming da Netflix
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]]>The post Primeira temporada de BoJack Horseman: abandonai todas as esperanças vós que entrais first appeared on Animes Online BR.
]]>BoJack, adianto, é uma das minhas animações favoritas de todos os tempos. Foi lançada em um momento importante para mim, com a sua narrativa genuína e franca, além de hilária. Apaixonei-me logo à primeira vista e acompanho a série desde o seu ano de estreia, o que me deixa mais empolgada com a segunda metade da última temporada, cujo lançamento está programado para 31 de janeiro de 2020. Por essa razão, estou produzindo essa série de críticas semanais de BoJack, com a sétima e última acompanhando o final da sexta temporada.
BoJack Horseman, o personagem (Will Arnett) não o desenho, é um indivíduo muito atormentado: de ego enorme, traumas, e com pensamentos permeados por fantasmas. No começo da história, ele assina os direitos de sua história de vida para serem adaptados em uma biografia, essa escrita por Diane Nguyen (Alison Brie). Esse momento estabelecido logo no início é o que abre as portas para o estudo de personagens delicado e atento pelos produtores, desencadeando então toda a narrativa ímpar do seriado.
Diferentemente de outras séries animadas cujos episódios contam uma história contida a cada capítulo, BoJack aproveita-se do formato da maratona proporcionado pelo lançamento da temporada inteira simultaneamente, próprio de serviços de streaming. Seu criador, Raphael Bob-Waksberg, comentou em entrevista para o Cinesnob como esse formato ajudou a definir a narrativa: “Eu acho que nós aprendemos mais ou menos pela televisão que se fizermos aquilo que é certo, coisas boas acontecerão e tudo vai se ajeitar ao final dos 30 minutos de duração de um programa. Bem, a verdade é que isso nem sempre acontece. ‘BoJack’ é um programa que resiste de verdade à ideia de finais. Não existe isso de final feliz ou triste pois a vida apenas segue adiante. Você não pode simplesmente dizer, ‘Finalmente! Eu entendi! As coisas estão bem agora!’. A vida continua rolando.”
Aproveitando-se da sua continuidade sólida, BoJack leva a sério as consequências dos atos do seu elenco, desenvolvendo uma história rica carregada de temas relacionados à indústria cultural estadunidense, como o lado vazio e solitário do sucesso, por exemplo. Contudo, a série é, antes de tudo, um programa de comédia e, ainda que seus momentos dramáticos sejam construídos de maneira elegante e sensível, os produtores jamais se abdicam do humor nas cenas, tornando então o programa uma obra híbrida muito equilibrada entre o riso e o choro.
Como os outros críticos, concordo que há uma diferença de qualidade entre os primeiros e os últimos episódios desta temporada – no entanto, é notável como são encaixadas as primeiras peças no tabuleiro as quais lentamente constroem a sua sequência narrativa. BoJack consegue ser brilhante elevando detalhes interpessoais – como comentários soltos, reações de personagens, ou mesmo piadas visuais – a uma relevância estratégica mais à frente.
Essa primeira temporada é o gosto introdutório de uma série absurda que, como as fábulas de Esopo, abordam histórias extremamente humanas com animais. Envolvente desde o primeiro instante, o espectador é cativado pelas tramas autênticas, cuja realidade soa muito próxima da nossa. Mal posso esperar para abordar o resto da série aqui.
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