Coronel Mostarda, na cozinha, com a pá. Suposições de um jogo de tabuleiro muito conhecido, de fato. Porém, o que aconteceria na vida real? É possível recriar a temática do jogo sem perder sua essência? Com a maestria do dorama Mine, digo que sim.
Vem que eu te explico:
“Mine”, traduzido como “É Tudo Meu”, é um dorama coreano que conta a história de uma família rica que tem algo a esconder. A série se aproveita da curiosidade do público quanto às fofocas que podem haver e quanto ao modo de vida da sociedade podre de rica.
Mais do que isso, Mine trabalha com tempo, espaço e percepção, o que dá ao cenário uma pegada do jogo detetive. Acompanhamos o passado, com a impressão de ser o presente e, ao longo da trama, somos transportados para o futuro (no caso, o presente).
Idas e vindas justificam os ocorridos e fazem com que cada episódio forneça uma dica do que seria a moral da história. Seja pela maneira de agir dos personagens ou por algum fato revelado. Dessa mesma forma, entendemos como que tantos chutes são possíveis.
Informações técnicas
Onde assistir o kdrama Mine?
Disponível em português na Netflix (demorou, mas chegou!!!).
São 16 episódios de mais de 1h10 (mas tão bons que você vai reclamar que não são mais longos).
Agora, se você ainda não está convencido: vamos aos 4 pontos que tornam essa série rica (e, sim, um deles é por se tratar de gente sentada na grana).
Chega mais para a resenha de “É Tudo Meu”!
1- Mine e o protagonismo feminino
Como é uma delícia assistir a uma série com personagens femininas bem escritas e que protagonizam a cena com efeito. Mine transmite a força e a realidade feminina ao mostrar de pouco a pouco a vida e amizade de Seo Hyun e Hi Soo. As duas moças, apesar de viverem na mesma família, possuem planos de fundo diferentes:
Jung Seo Hyun, interpretada pela atriz com um nome muito parecido (Kim Seo Hyung), é uma mulher que parece estar em todas. Ela trabalha para ter o controle de tudo e sempre aparece a par das situações. Sua história é muito dolorosa e a forma como foi contada merece um prêmio artístico.
Já a Seo Hi Soo é uma moça retratada como sendo delicada e doce. A esposa perfeita é interpretada pela atriz Lee Bo Young e conquista uma evolução de personagem muito boa.
Ambas personagens começam com um clichê e fazem questão de sair dele para mostrar o impacto da trama aos telespectadores.
Não só por essas duas que vemos a presença feminina na história. O dorama Mine consegue retratar mulheres de diversas formas sem que fiquem com aquela representação ridícula e caricata. Quando pensamos que estão para fazer alguma besteira na construção de personagens ou no jeito como as mencionam, temos pequenas reviravoltas que mostram o contrário.
Por esse tópico, posso dizer que a parceria entre roteirista e diretora foi muito bem sucedida. Respectivamente Baek Mi-kyung (Strong Woman Do Bong Soon) e Lee Na-jung (Oh My Venus e Love Alarm) arrasaram.
Se você gosta de ver personalidades fortes e girl power real sem ser por forçação de barra, está aí mais um motivo para pegar seu tabuleiro de detetive e começar a bisbilhotar a casa desses ricos.
2- Investigue tudo!
O que nos leva ao próximo ponto: Mine é um dorama de suspense, drama e mistério. Um thriller contagiante que nos prende no dia a dia de gente muito fora da nossa realidade. Além de se passar lá na Coreia, são pessoas muito ricas que moram naquele terreno como patrões e realmente nos dão curiosidade. Temos aqui e ali impressões sobre a mais alta classe e julgamentos a todo momento.
O papel dos funcionários bate de frente com a vida regada a dinheiro e infelicidade (ou uma felicidade mentirosa) dessa família. Tanto que uma das personagens secundárias diz com todas as palavras que quer ficar ali pelo entretenimento.
Ao mesmo tempo, percebemos como as pessoas são apagadas no contexto. Todo dia tem como ter um show, mas também o que cada um tem que se submeter para estar ali?
Você, como telespectador, segue os passos de vários personagens, vê suas perspectivas e começa a criar na cabeça o que pode acontecer com esse povo todo no final. É divertido e intrigante, com certeza, brincar de observador e discutir consigo mesmo se suas insinuações foram de encontro com a história original.
Pronto para mostrar suas cartas ou vai deixar o jogo continuar para apostar?
3- A construção da liberdade em Mine
Dessa forma, seguimos para o terceiro motivo para assistir ao dorama Mine: a discussão interna da liberdade.
Liberdade? Mas rico tem tudo! Óbvio que vai ser livre para fazer o que bem entender. É aí que está o pulo do gato: será que toda essa independência está rolando bem? Ou será que está todo mundo meio bitolado das ideias?
Desde o começo, a majestosidade de ser uma família rica se contrasta com pequenas liberdades, pois fica explícito que o dinheiro prende as pessoas e muitas vezes as transformam.
Cada conquista humana ganha proporções muito maiores. Em detrimento a isso, as pressões também. E fica mais claro ainda o que alguns têm que suportar para não largar tudo porque cresceram com a colher de ouro na boca (expressão coreana referente ao nosso berço de ouro).
A trama também questiona o que cada um faz com o livre arbítrio e tantas glórias herdadas por terem nascido ou entrado para a high society.
E assim vai girando entre um e outro personagem até eles mesmos perceberem seus próprios caminhos. Chega a ter um teor de filosofia de vida que envolve discussões tanto internas quanto com outros da cena. Preste atenção nas conversas, pois elas são ótimas para ficarmos pensando na vida e nos questionando. E aí quando você chegar no ato final do dorama, vai conseguir juntar tudinho.
4- A vida dos ricos (e dos que trabalham diretamente com eles)
E, por último, mas não menos importante: o cenário. Assim como Kardashians e várias outras séries, Mine tem a atração de estar contando a vida de gente rica. É glamorosa, é diferente e a gente quer saber o que vai acontecer.
Além do mistério central, também somos envolvidos pela nossa curiosidade de entender como funciona uma família super rica coreana, né? E ao contrário de outros doramas que trazem chaebols, Mine nos aproxima demais do que acontece. A trama de Mine não se prende num romance e explora bem o funcionamento da família observada.
Enfim, essa série é um conjunto de entretenimentos muito bem construído. Não é tão impactante como Sky Castle, nem gore como Girl From Nowhere, mas é muito equilibrada entre leveza e gravidade. A melhor representação que poderia ter para um jogo de detetive.
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