Animal Crossing New Horizons tem sido o maior responsável pela manutenção da minha saúde mental desde o começo dessa quarentena. Apesar de já ter jogado os jogos anteriores da franquia, nenhum me prendeu tanto quanto ACNH. Umas semanas atrás encontrei um dos meus antigos diários, onde escrevia sobre os animes e jogos que acompanhava na época, e lá estavam páginas inteiras dedicadas ao Animal Crossing de 2001, e reler este diário me levou a jogar novamente o primeiro jogo, e isso abriu meus olhos para uma mudança crucial no jogo.
O primeiro jogo de Animal Crossing foi lançado em 2001 no Japão e em 2002 no resto do globo. A franquia foi criada por Katsuya Eguchi, e possui 3 temas: família, comunidade e amizade. A ideia para o jogo nasceu quando Katsuya se mudou para outra cidade, ficando longe de sua família, amigos e comunidade, como sentia muita falta destes elementos em sua vida, ele começou a procurar formas de recriar ou emular este convívio e sentimento de união. O jogo é um simulador social, no qual você vai viver em uma nova cidade, pagar por sua casa, fazer amizade com seus vizinhos, etc.
Joguei Animal Crossing pela primeira vez por um emulador, e não confio muito nas opiniões da Giselle que fez anotações naquele diário 12 anos atrás, então resolvi jogar novamente o primeiro jogo para saber exatamente o que se passava, então, larguei um pouco a ilha e voltei para a cidade para redescobrir o primeiro jogo de Animal Crossing.
De volta às Origens
Um gato chamado Rover pergunta se pode se sentar contigo em uma viagem de trem, você pode até negar, mas ele vai sentar mesmo assim. Após uma conversa, Rover decide que vai com a sua cara e ira te apresentar a um de seus amigos, que irá te fornecer uma casa. Esse amigo é Tom Nook.
E se vocês chamam Tom Nook de agiota em ACNH, é porque não o conheceram no primeiro jogo. Ele te apresenta as opções de casa e quando você escolhe seu novo lar, ele imediatamente te cobra 19.800, você tem a opção de negar pagar, já que começa o jogo com apenas 1.000 bells. Quando neguei, Tom Nook PEGOU MEU DINHEIRO À FORÇA E RIU DA MINHA CARA POR NÃO TER DINHEIRO O SUFICIENTE. É neste momento que você se torna uma engrenagem na máquina capitalista de Tom Nook.
Agora, sendo (o único) trabalhador da cidade, sua vida consiste em fazer pequenas quests e obedecer seu patrão. Após quitar suas dívidas é que a real experiência do jogo começa. E aqui, esses 19,800 bells são muito mais soados do que em qualquer outro jogo da franquia. Com as dívidas quitadas, passei a explorar mais a cidade e focar em fazer as atividades que faço diariamente em minha ilha: pescar, pegar insetos, pegar frutas, fósseis, etc.
E foi quando notei que não havia muito a se fazer, já que neste jogo os recursos não são tão abundantes e as opções de customização da cidade são limitadas, se passo horas por dia jogando ACNH, não consegui passar nem duas horas por dia no jogo original (E passar uma semana esperando tom nook colocar itens necessários a venda foi algo que me deu nos nervos).
Villagers (nem tão) amigáveis
Mas isso me forçou a interagir mais com as pessoas da minha cidade! Em uma das minhas anotações antigas, escrevi que uma das minhas vizinhas me chamou de “BURDEN TO SOCIETY” e que ia perguntar pra minha professora o que isso significava. Isso me chocou um pouco porque meus villagers de ACNH nunca diriam algo do tipo. Mas o primeiro jogo tinha um tom completamente distinto.
Se o primeiro jogo da franquia deixa a desejar nas opções pra matar o tempo, ele não decepciona em nada quanto aos seus villagers. Cada um deles possui uma personalidade tão forte e distinta, os diálogos são imprevisíveis e hilários! De villagers carentes aos extremamente agressivos e que faziam questão de me humilhar ou ameaçar sempre que possível (Eu tô falando de vocês, Cupcake e Static, Cupcake me humilhou quando fui fazer uma entrega do Tom Nook e Static me ameaçou quando tentei lhe dar um bom dia!)
AC Vs ACNH
E depois de conversar com villagers com tanta personalidade, villagers tão imprevisíveis e cativantes, voltar para ACNH tornou-se um pouco frustrante. Pois lá meus moradores não tem um pingo do carisma que os bichos surtados do jogo de game cube. Parece que cada um deles tem as mesmas 10 linhas de diálogo possível, Sherb vai me contar sobre seus insetos, Marshal vai falar palavras em outros idiomas e traduzir de maneira errada, Boots vai querer fazer parkour dentro do museu, etc.
E isso piora quando você tem mais de um morador com a mesma personalidade; eu tenho Diana, Judy e Tipper, 3 Snootys que vão repetir as mesmas coisas o dia todo, assim como Sherb e Big Top, meus preguiçosos que vão dizer as mesmas frases sobre insetos. Isso faz com que New Horizons pareça mais vazio e sem alma em relação ao seu antecessor. Meus villagers atuais são só vizinhos bonitinhos e populares, falta algo.
A Nintendo fez um excelente trabalho ao coletar feedbacks dos jogos anteriores e escutar o jogadores, nos proporcionando mudanças que já eram muito desejadas; como mais espaços de customização, poder escolher onde ficará a casa de determinado morador, etc. Mas faltou dar mais vida aos villagers; Foi muito bom revisitar este primeiro jogo e relembrar o caos completo que era o relacionamento com uma vizinhança nem tão amigável, ACNH é o melhor jogo da franquia até o momento, por suas opções infinitas de customização. Criar um lugar totalmente seu, do seu jeito, é ótimo, mas ter um arque-inimigo na minha ilha, ou vizinhos mais imprevisíveis e nem tão pacíficos, seria divertido.