O Fim do Mundo, de 2019 conta a história de Spira que volta para casa depois de sair de um centro de correção juvenil e se reconecta com seus entes queridos em Reboleira, uma favela de Lisboa prestes a ser destruída. Mas Kikas, um dos antigos traficantes do bairro, deixa claro que ele não é bem-vindo ali.
Focando na comunidade desse bairro, o filme de Basil da Cunha, explora as dificuldades dos moradores, tendo como destaque Spira e seus amigos. Basil é um suíço de origem portuguesa e, segundo ele, sempre teve dificuldades de sentir um pertencimento, seja pela Suíça ou por Portugal. O diretor teve curta-metragens seus mostrados em Cannes e sua estreia com longa-metragem com Até Ver a Luz (2013).
Desde o início do filme até o final, vemos como Spira e seus amigos têm dificuldade de lidar com o traficante Kikas e, além disso, todos tem dificuldades com o despejamento e destruição das casas que está acontecendo em toda a favela. O início do filme parece nos dar uma esperança falsa. A cena que abre o filme é um batizado. A comunidade toda está reunida e a cena é muito bonita. Temos a ideia errada de que a história será positiva, mas não, apesar da esperança de uma nova vida, vemos como todos acabam indo para o lado da violência. Nem sempre sendo culpa dos moradores, mas sim da falta de oportunidades que os jovens tem na comunidade. Isso é algo que não é só visto em Lisboa, mas em inúmeras comunidades pobres no mundo todo.
O elenco é bem diverso, contando com Michel David Pires Spencer, Marco Joel Fernandes e Alexandre Da Costa Fonseca. Todos os personagens tem uma ligação, cada um sabe da vida do outro, bem como acontece em comunidades pequenas. Vemos coisas comuns dessas comunidades, como violência, a idealização de armas e gravidez na adolescência. As gerações futuras acabam ficando presas a essa comunidade e é difícil de alguém conseguir sair dela.
Na cena final, vemos um carro passando e levando o caixão de um morador que morreu. A câmera segue o caminho todo mostrando o rosto de cada personagem e cada um deles olha diretamente para a câmera. É como se todos estivessem se despedindo dessa pessoa e só assim, na morte, para ela sair de lá. A câmera, não só nessa cena, mas como em todas as outras, segue os personagens. Ela nunca é fixa, passando a sensação de que quem assiste está convivendo com aquelas pessoas e faz parte da comunidade. A coloração da fotografia é muito bonita e saturada, as cores ficam bem vivas, combinando com a alegria que também existe na comunidade como um todo. As luzes durante a noite ficam bem destacadas e o rosto dos personagens também, mesmo quando está bem escuro.
O Fim do Mundo nos mostra uma realidade muito comum em comunidades de muitos países, não só de Portugal. É importa para nos mostrar algo que não estamos muitas vezes acostumados a presenciar. É claro a sensibilidade que o diretor tem de mostrar essa realidade, não abusando também da violência. Ela está presente, mas não precisa ser exagerada para passar a mensagem do filme.