Não é segredo para ninguém que eu comecei a adentrar no universo das HQs há pouquíssimo tempo e, algumas obras tem chegado nas minhas mãos como grandes oportunidades que surgem do nada. Black Science foi uma delas.
Eu não conhecia o trabalho do Rick Remender até ler o volume 1 de Black Science (eu pelo menos eu achei que assim fosse), onde descobri que ele é o autor de uma das primeiras grafic novels que li (lá pelo ano de 2010), Night Mary, uma história que, se me lembro bem, é muito envolvente e cheia elementos muito interessantes, e isso me deu muitas expectativas com relação à obra que estava à minha frente.
No primeiro volume de Black Science somos apresentados à Grant McKay, um cientista que tem a missão de criar um portal para outras dimensões para uma organização de Anarquistas. Já nas primeiras páginas do volume, entendemos que nem tudo na missão está dando certo, afinal, um dos experimentos falha ao levar um grupo de cientistas e duas crianças para o “sempreverso”.
Questões profissionais, pessoais e de caráter moral são temas de monólogos inteiros já no primeiro contato com a obra, fazendo com que o espectador se veja curioso com o motivo de tantas preocupações, em meio a um turbilhão de acontecimentos que surgem nos quadros do HQ.
A HQ é roteirizada por Rick Remender e tem ilustrações do italiano Matteo Scalera, que trabalhou em grandes obras como O Indestrutível Hulk. A coloração ficou por conta de Dean White que também fez parte da produção de grandes obras.
A obra é surpreendente em todos os sentidos, a cada virar de páginas somos levados a lugares complexos tanto na questão de roteirização sobre o local, quanto artisticamente falando. A beleza e a fluidez das artes e das cores elaboradas por Scalera ganham uma dimensão incrível, fazendo com que o espectador ganhe uma experiência super imersiva durante toda a obra.
Um dos fatores mais interessantes na narrativa é que cada capítulo é contado de um ponto de vista diferente, os sentimentos, pensamentos e sensações de cada um dos integrantes da equipe tem seu espaço, fazendo com o leitor enxergue diferentes opiniões sobre o que os personagens estão vivendo, inclusive em meio a todos os momentos sufocantes. Como cada personagem tem seu lugar ao sol, acabamos nos identificando um pouco com cada um e fazendo com que suas perspectivas ganham um peso e uma intensidade.
O primeiro volume, intitulado “Como cair para sempre” conta com seis capítulos, já o segundo volume, “Bem-vindo, Lugar Nenhum” expande o universo da obra ao adicionar uma capacidade que parece ser infinita na sua narrativa, além de nos apresentar a uma situação de morte aleatória e decorrente dos saltos entre as dimensões do líder dos Anarquistas.
Já no terceiro volume, McKay se encontra preso em um mundo atacado e quase arruinado por uma praga e lá entende que todas as dimensões pelas quais passou com sua equipe foram devastadas pela tecnologia do Pilar. Inúmeras questões internas da equipe surgem e tudo entra em colapso. McKay pode perder tudo pelo que lutou na tentativa de salvar um mundo que sequer é o dele.
A obra como um todo tem um tom otimista a cada novo ciclo: apesar dos saltos seguidos do portal representarem universos corrompidos e cheios de novidades nada agradáveis, a todo momento e a cada novo mundo visitado surgem novas oportunidades de imaginação.
Black Science nos faz questionar até onde vai a ambição humana quando o assunto são interesses intensos que não conseguem enxergar as consequências.
A obra foi trazida para o Brasil pela editora Devir, que está trazendo agora o volume 3 em Setembro de 2021, com tradução de Giovana Bomentre.