“Viver não é preciso, Vikni. Viver é caótico, é livre. Não há precisão, não há um protocolo ou destino, não há como planejarmos nossa vida. Nós duas estamos aqui, neste momento, porque viver é impreciso.”
A Herdeira de Umbrea é uma obra nacional do gênero dark fantasy e cativante para todo leitor que ouse se aventurar no mundo mágico, misterioso e sombrio de Myr. Originada por Isabella Leão, escritora gaúcha, autora também do conto Apenas Bruxas Caminham no Escuro e game designer do sistema de jogo PandoraRPG. Não deixe de conferir nossa review sobre A Herdeira de Umbrea.
A sinopse:
Myr é um mundo sombrio de fantasia medieval, assolado por bruxos, demônios, devas e conspurcado pelos pecados mortais. Nas terras nevadas do norte, Vikni fora amaldiçoada pelo sangue de um demônio, tragédia que fez sua mãe ser condenada à morte por bruxaria e seu pai perder a sanidade em uma busca desenfreada pelo monstro. Vikni tornou-se uma espadachim e inicia agora sua cruzada para caçar o Demônio de Yafira, criatura que sentenciou sua família à ruína. Enquanto persegue seu algoz pelas terras de inverno e sombras, ela terá que lidar com os tormentos da bruxaria, os pesadelos da deusa da entropia e a perseguição ferrenha da sagrada e inquisitória Igreja de Haggndar, em uma jornada de sangue, morte e sacrifícios.
Do universo:
Fonte: Isabella Leão e @gustavineo_art
O mundo de Myr é um universo rico em vasto em termos de sua própria mitologia(muito inspirada na cultura eslava) e história. Myr é um continente com reinos, raças e civilizações distintas convivendo com suas próprias crenças, qualidades, defeitos e objetivos. Ao misturar elementos de uma fantasia medieval com um toque sombrio, a autora conseguiu criar um universo em que nos sentimos realmente em uma campanha de RPG, um universo onde há segredos obscuros e místicos ao mesmo tempo em que esperamos encontrar um monstro ou inimigo que fará parte da campanha das personagens. Nesse ponto para todo fã de um bom RPG como Dungeons and Dragons e Tormenta você se sentirá em casa. Entretanto, tome cuidado ao se enganar pensando que Myr é um reino de apenas aventuras épicas, conforme o gênero dita: é uma fantasia medieval sombria.
E de sombrio esse universo tem muito, é clara a inspiração de Isabella em obras como Berserk, em especial nos elementos como a violência (tanto física quanto mental), o horror, cenas descritivas de gore e outros pontos que deixarei serem descobertos durante a leitura. Em certo ponto a narrativa também se usa de técnicas que vemos em algumas obras de horror de autores mais conhecidos como H.P Lovecraft ou Stephen King ao focar no sofrimento psicológico da personagem enquanto observa-se a passagem do tempo ou a degradação da mente dela.
Ainda assim, mesmo com essas inspirações, o brilho de Myr não é tirado, muito pelo contrário, até fãs de obras muito imersivas como Senhor dos Aneis ou Game of Thrones vão se sentir abraçados pelo mundo rico e sombrio de Myr e para os amantes do horror garanto que terão aqui uma de suas fantasias preferidas.
Das personagens:
Vikni e sua trupe são com certeza carismáticos, cada um a sua maneira e sem dúvidas foram pensados cautelosamente pela autora. A trama possui alguns personagens secundários e auxiliares, porém podemos focar nossa análise no grupo principal: Vikni, a bruxa; Mharessa, a barda; Saqxel, a bárbara e Sastrya, a cavalheira.
Fonte: Isabella Leão
Esse quarteto de damas guia todo o andamento da história e na maior parte do tempo acompanhamos a narrativa sob a ótica de Vikni sendo ela a protagonista da história.
A química das personagens combina bem e você claramente vê um grupo ali formado de forma orgânica, sem gerar estranheza ou aquela sensação do narrador estar forçando a junção desse grupo. O motivo que une o grupo também é convincente e não gera a sensação de estar ligado apenas por capricho de roteiro e sim de trata-se de um grupo convicto com suas ambições e diferenças.
Fonte: Isabella Leão
Ainda que cada personagem tenha seu próprio núcleo, senti que outros núcleos poderiam ser um pouco mais explorados como por exemplo o de Mharessa, porém conversando com a autora entendi que isso será explorado na sequência (já confirmada) da obra e que agora teremos não só mais narradores como exploraremos outros núcleos de outros personagens.
De forma geral o quarteto combina muito bem com a aventura que enfrentam e com o mundo fantasioso de Myr. Suas motivações e aspirações nos fazem ler mais uma página e muitos diálogos ricos ocorrem entre eles o que nos faz sempre pensar sobre a vida e ao mesmo a brutalidade daquele mundo sombrio.
Do enredo:
A trama da Herdeira de Umbrea é construída sobre um plot de vingança, um mote bem tradicional para muitas fantasias, ainda mais se tratando de uma sombria. Mas, felizmente, a autora soube tratar bem isso e dessa simples ideia floresceram outras que foram ornando sua história principal com pequenos arcos bem interessantes e em especial devo citar o arco da Bruxa de Ravendell que é muito bem construído.
Toda a construção de mundo feita em volta do universo de Myr como a Igreja de Haggnar, a mitologia do mundo, as bruxas, os demônios, tudo se entrelaça com o enredo principal da obra e suas ramificações o que deixa ainda mais gostosa a história e nos faz pensar qual será o passo seguinte de Vikni e seu grupo.
Um ponto alto é que mesmo o plot sendo algo mais “chiclê” como vingança, ele é bem construído, é coeso e você não se sente enjoado de ser lembrado que na verdade a história é sobre uma vingança. Hora ou outra você se sentirá preso pela capacidade de imersão desse universo e se perguntará sobre um elemento ou outro da obra, puxando sua atenção para diversas partes, mas nisso a escritora soube atuar bem, conseguindo capturar de volta a atenção do leitor e puxando-a para as partes da história que queria focar.
Sem entrar em spoilers, podemos resumir que a jornada de Vikni é uma jornada cheia de bruxaria, sangue, amizade, momentos épicos, momentos dramáticos e não uma redenção, mas praticamente um renascimento dela.
Em resumo:
A Herdeira de Umbrea é uma joia quando pensamos em obras nacionais do gênero dark fantasy, sua qualidade é comparável a obras do mesmo gênero já consagradas pelo público como The Witcher. A escrita de Isabella realmente chama a atenção durante as páginas e o vasto mundo construído em sua mente e transcrito nesse livro nos encanta e nos prende, seja caminhando pelas florestas com medo de Ravendell, nas aventuras atrás de monstros, ou nos embates entre Vikni e a Igreja de Haggnar.
Você pode encontrar o livro na Amazon, podendo ser lido via Kindle (via aplicativo no PC, celular ou dispositivo Kindle) e com certeza deveria dar uma chance para ele.