Quer jogar um jogo? Little Misfortune

Little Misfortune

O que você faria se ouvisse o narrador do universo dizendo que você morrerá em breve? Como isso te afetaria? Você pensaria nas pessoas que deixaria para trás? E o mais importante: você estaria disposto a entrar em um jogo perigoso para tentar mudar seu destino e buscar a felicidade eterna? Vamos falar um pouco de Little Misfortune.

Little Misfortune
o biscoito diz : Você vai morrer hoje

O que é?

Lançado em 18 de setembro de 2019, desenvolvido e publicado pela KillMonday Games AB, Little Misfortune é um jogo de aventura, com elementos de terror e suspense, a jogabilidade é “point and click”, em formato 2D. Nossa protagonista é Misfortune Ramirez Hernandez, de 8 anos de idade, que, acompanhada por seu novo amigo, Mr. Voice, a garotinha vai participar de um jogo, tudo em busca da Felicidade Eterna. Misfortune lteralmente significa ´´Desafortunada“, então as coisas não parecem muito favoráveis, mas não se preocupe pois Mr. Voice irá ajudá-la (ou não).
Little Misfortune
esses carrinhos estão me matando com sua fofura, tão fofos.

clicar e apontar mas…

A mecânica “Click and point” pode ser usada de formas muito criativas, mas aqui o estúdio apostou na simplicidade de clicar nas escolhas e lidar com suas consequências, mas o jogo poderia se beneficiar de puzzles ou outras formas de dar uma “sacudida” na gameplay.
A ideia de guiar seus caminhos e ver o que se desenrola disso é algo que adoro, quando bem executada, e infelizmente o jogo deixa a desejar nesse ponto. Pois sim, suas escolhas terão pesos diferentes em aspectos distintos, mas o jogo cai na obviedade com frequência e desliza em um ponto crítico… a protagonista, ou melhor, o que aconteceu com a protagonista quando o roteirista deu uma saída. Durante o jogo você acaba encontrando diferentes versões da personagem, e não digo isso como “amadurecimento de personagens”, digo como “os roteiristas esqueceram qual é a voz da personagem e o tom que o jogo pretendia seguir”.
Little Misfortune
Vamos lá, o jogo é pautado em seu humor dark, em um primeiro momento, contrastando com a inocência da personagem. Little Misfortune fala atrocidades sem ter a menor ideia do absurdo que acabou de dizer, por ser uma criança ela não vê o mundo como eu,você e o Mr.Voice. Até que os roteiristas metem o louco e largam a ideia da inocência infantil pra uma personalidade mais bruta,sarcástica e … desagradável?

Errou,mas segue o jogo

A garotinha que começou o jogo com falas pesadas sobre “como sua mãe não queria casar com seu pai, mas o fez porque estava grávida e aborto é ilegal”, perde esse tom de “choque porque uma criança falou algo pesado sem notar” e passa ao nível “piada de pum” várias vezes, a quebra da personagem vai te fazendo perder interesse nela, ou em seu futuro, ao final das 3h de jogo eu já não estava mais tão envolvida na narrativa porque a imersão é quebrada nesse multiverso de infortúnios em que temos várias versões da protagonista, no fim do jogo temos a versão mais próxima a do início que fecha um arco (principalmente se você pegar o final “eternal happiness for mommy), mas as deslizadas de roteiro no caminho não deixam o fim ser totalmente satisfatório.
House

E o prêmio de obviedade vai para…

Infelizmente os deslizes do roteiro não param por ai, até dá pra engolir a mudança súbita  de personagem da garotinha, mas o imperdoável é o plot twist que mirou no M. Night Shyamalam em “Corpo fechado” mas acertou no M. Night Shyamalam de “O último mestre do ar”.
Logo de cara, o roteiro deixa claro que “fulaninho bom,ciclaninho mau”, o que a princípio pareceu só uma forçação, pouco depois fica muito óbvio pra qual caminho o jogo vai. E o pior é que além desse plot twist capenga, dá pra sentir que os roteiristas se sentiram muito inteligentes ao arquitetar esse fim de jogo que não faz jus ao que foi proposto no começo , o jogo age como se fosse algo grandioso e que você não viu chegando, quando tudo estava tão, mais tão óbvio. Essa conexão óbvia que você provavelmente fará em 40min de jogo não chega a estragar a satisfação do final (bom,do ruim estraga sim), mas o jogo tenta fazer uma super revelação que não era lá grande coisa.
Graveyard
Paul morreu fazendo o que amava, comendo cocô

Humor

O humor mais pesado do jogo também varia bastante de tom, mas majoritariamente trazendo tópicos pesados ou desconfortáveis da vida real. Nem sempre são piadas, as vezes alguma verdade dura é jogada na sua cara e o jogo segue como se não tivesse dito nada demais. Quanto ao humor, normalmente não são piadas mas frequentemente topamos com comentários sobre a vida real, frases secas e dolorosas, ou frases soltas, umas são realmente bons e te fazem dar uma risadinha sincera, outras te fazer dar só um soprinho pelo nariz, e tem as em que o jogo se esforça demais paraa ser engaçado e falha miseravelmente.

Lindo de morrer

Mas vamos falar de coisa boa: a estética! Little Misfortune entrega gráficos cartunescos que parecem ter saído de um livro de história infantil. Com gráficos de encher os olhos, é impossível não reparar cada pequeno detalhe da tela, tudo é muito polido e bonitinho. Quanto ao som, o que mais ouvimos são os diálogos entre Miss Fortune e Mr. Voice, e eles falam bastante, funciona para a narrativa e felizmente não parece apenas um audiobook, a dublagem e inglês é muito boa.
Fox

O veredito

Little Miss fortune é um jogo que inicialmente te instiga por sua premissa e humor inusitados, enquanto enche os olhos com uma arte linda. Mas não aproveita totalmente seu potencial. Sim, é um game curto, a revelação do inimigo era óbvia, mas o final do jogo não deixa de ser satisfatório, e me fez dar uma lacrimejada sincera. Little Misfortuneme surpreendeu de varias maneiras, embora nem todas tenham sido positivas, ainda sim, foi um jogo de muito choque, e certa doçura a sua maneira, que não deixa de encantar.

Notas:
Gráficos: 5/5
Jogabilidade: 3/5

Diversão: 3/5
Som: 2/5
Narrativa: 3/5

Geral: 3,2/5