8 de Março : Ser mulher no universo dos Games

Mais um dia internacional da Mulher chega, e como já de costume para esse dia, várias homenagens aparecerão, vindas de portais de notícias sobre jogos, times de esports, youtubers como foco em games, entre outros. Mas como mulher que consome jogos e acompanha o cenário, gostaria de lhes trazer um texto diferente hoje, ao invés das análises de jogos que costumo fazer, vamos falar um pouco sobre mulheres e a indústria dos jogos.

De acordo com a Pesquisa Game Brasil de 2020, as mulheres são maioria entre os jogadores do país. Porém a representatividade feminina nos games ainda é um assunto que precisa ser debatido, não apenas a representatividade in game, com as personagens e suas narrativas. Mas também fora deles, reconhecendo as mulheres e o cenário feminino como um todo, e é neste tópico que focaremos hoje, com alguns questionamentos a comunidade e algumas vitórias que já conquistamos.

Machismo

Infelizmente, quando o tópico envolve mulheres e jogos, este é um dos tópicos mais comentados, herança de décadas de “Vídeo Game não é coisa de menina”. Por mais que algumas tenham tido acesso a jogos por um console de irmão ou algum parente, não é incomum encontrar garotas que só tiveram experiência com os vídeo games quando mais crescidas. O apoio dos pais em relação aos interesses de seus filhos pode influenciar a criança a continuar (ou não) com este interesse, e não é incomum que meninas sejam desencorajadas a ingressar neste tipo de universo.

Independente de crescer jogando ou jogar apenas quando mais crescida, o machismo ataca todas. Seja com frases machistas em chats de mensagem ou voz  in game, ou em stream, uma coisa é certa: as formas de denunciar nem sempre são eficazes, e a impunidade dos assediadores é sempre um balde de água fria em que quer apenas jogar em paz. As formas de denunciar não deixam a desejar apenas em nos servidores de jogos online, mas também em sites de Streaming, já que as vezes, mesmo com moderadores, alguns comentários indesejáveis podem aparecer. E com casos de assédios até dentro das empresas (como os diversos casos denunciados contra a Riot) acabam desmotivando jogadoras.

Não se deixe enganar, o assédio não ocorre apenas em jogos online, o assédio também ocorre ao tentar diminuir um comentário feito por uma jogadora, não pelo conteúdo da mensagem, mas apenas por ter sido um comentário feito por uma mulher. Outras formas de tentar deslegitimar mulheres nas comunidades sobre jogos são mensagens como “Mobile não conta”, “mas você joga no console Y”, “então você joga? Cite 20 jogos do console  Y”, “e quantas horas de jogo você tem?”, “passa a battletag pra eu ver se você é gamer mesmo”,”Mas você só joga game casual” entre outras.

O assédio em jogos online muitas vezes intimida jogadoras, que, a fim de se preservarem, optam por jogar sem chat de voz, ou utilizar um nickname que não remeta a algo que possa ser interpretado como feminino. Buscando conscientizar a comunidade e incentivar meninas a usarem seus nicks, em 2017 a ONG inglesa criou a campanha #MyGameMyName

Representatividade

Se você acompanha mulheres que criam conteúdo sobre jogos, talvez você tenha notado que todo fim de Fevereiro/começo de Março muitas delas são chamadas para podcasts, ou entrevistas para dar um relato sobre “como é ser mulher gamer?” em algum podcast sobre jogos, ou para uma matéria sobre sua experiência com jogos e ouvir “Qual foi o pior caso de assédio que você já sofreu” ou outras questões sobre o assédio. Não há problema algum em chamar mulheres para uma entrevista, ou buscar entender sobre os casos de assédio no cenário, mas por que procurá-las apenas para isso? Por que não fazer convites ao longo do ano para falar sobre jogos, e não apenas sobre a experiência de ser uma mulher no universo dos games?

Veja bem, a inclusão não é apenas para as gameplays em paz, mas também é incluir mulheres nas empresas e organizações. Roteiristas, managers, CEOs, game developers, pro players, estes espaços também devem ser ocupados.

Quando se trata do cenário profissional, o cenário feminino ainda engatinha, não por falta de pessoas boas jogadoras ou pessoas empenhadas e fazer o cenário funcionar. Mas pela falta de interesse de grandes empresas. Há muitas pessoas empenhadas em tornar o cenário mais acessível e adequado para garotas, mas em um mundo capitalista, sonhar com um projeto infelizmente não é o suficiente para leva-lo para frente, falta investimento, falta vontade dos grandes grupos e empresas de apoiar e incentivar o cenário como um todo.

Projetos como Sakuras Esports e Projeto Valkirias fazem um trabalho muito importante ao incentivar e preparar garotas para o cenário, mas adoraria ver as grandes empresas e times fazendo o mesmo. Importante ressaltar que ter mulheres em sua equipe não é o mesmo que valoriza-las. Pois o que não faltam são casos de pro players usadas pelo marketing para equipes e sendo demitidas em seguida, ou times que não proporcionam os mesmos recursos para times masculinos e femininos. Creio que o caso mais comentando tenha sido o da Pro Player Mayumi, quando saiu da INTZ, a jogadora citou que passou a não ser mais convocada para treinos individuais e chegou a ficar sem mesa ou pc no centro de treinamento, na última sexta feira (05) a INTZ postou um pronunciamento sobre o acordo final entre player e equipe.

Lutando por um futuro melhor

Apesar de todas as adversidades, cada vez mais mulheres adentram este cenário. Atualmente temos Marina Leite como CEO do time Vorax, e Cherrygumms como CEO da Black Dragons. Mayumi atualmente está na TSM, uma organização profissional de Esports com base nos Estados Unidos. Em 2020 a pro player Harumi tornou-se a primeira mulher a disputar um campeonato oficial de League Of Legends no Brasil na Rensga. Festivais voltados para times femininos. Pensando no crescimento do (já grande) público feminino em Valorant , no dia 23 de fevereiro a Riot Games anunciou que investir mais no cenário feminino com a criação da Valorant Game Changers. A iniciativa servirá para apoiar e organizar competições exclusivas para mulheres no eSports, com investimento inicial de 460 mil reais.

Como posso apoiar o cenário?

Já conquistamos muita coisa, mas ainda temos um longo caminho pela frente, e você pode estar se perguntando como pode ajudar. Bom, primeiramente apoie as garotas, busque conhecer novas streamers (o bot de twitter e discord @SakurasBot pode te ajudar a encontrar uma stream on no momento), busque conteúdos escrito por mulheres, como o projeto Garota no Controle. Caso presencie um caso de assédio enquanto joga, não se cale, o silêncio é conivência. Acompanhe organizações que buscam a inclusão de mulheres no esport, como o projeto Valkirias e Sakuras Esports; Cobre das grandes empresas melhores

boas condições para suas jogadoras, treino, coaches, assistência psicológica entre outros. Veja se portais, empresas, podcasts etc, que nos homenageiam neste dia 8 de março, trazem conteúdos criados por mulheres ao longo do ano, veja se eles trazem mulheres apenas nesta data ou ao longo do resto do ano, façam este ´´Parabéns“ ter um sentido, e não ser apenas uma data para a qual a organização faz um post em tons de rosa.

Nossa luta já rendeu várias vitórias, mas ainda temos um longo caminho pela frente.