No mundo dos games não é incomum que franquias queridas entrem em hiato e não voltem mais. Por isso é sempre um deleite ver uma boa franquia ganhar um novo jogo depois de anos, tudo fica ainda melhor quando esse novo game vem honrando seu legado, sem perder suas raizes, e mesmo assim inovando e inserindo bem uma nova era, como em Return to Monkey Island.
O que é
Return to Monkey Island é um jogo “point and clik” lançado em 19 de setembro de 2022, desenvolvido pela Terrible Toybox e publicado pela Devolver Digital e LucasFilm Games. No momento dessa review o jogo está disponível para PC windows, MacOS e Nintendo Switch.
A franquia começou em 1990 e Return to Monkey Island é a continuação direta de Monkey Island 2: LeChuck Revange, jogo mais aclamado da franquia, que apresentou um final misterioso, que serviu de gancho para games seguintes. mas ainda seguindo os eventos de Tales of Monkey Island (2009).
Porém, os jogos lançados em 97, 2000 e 2009 não concluíram a narrativa esperada, provavelmente pela ausência de Ron Gilbert e Dave Grossman, desenvolvedores do primeiro e roteirista e diretoresT do segundo, nas sequências Ron atuou apenas em “Tales Of Monkey Island”, como consultor. Return of Monkey Island marca não apenas o retorno da franquia, mas também o de Ron e Dave como roteiristas, diretor e produtor, e enfim a solução para o enigma do segundo jogo. Mas se você não jogou os anteriores, não se preocupe, você entenderá a história, mas perderá referências importantes. Apesar de funcionar só, o jogo será melhor aproveitado por aqueles familiarizados aos capítulos anteriores (1990 e 1991).
Aqui você volta a encarnar o pirata Guybrush Threepwood, anos após os eventos de LeChuck Revange, o cenário não poderia ser outro: Monkey Island! Não apenas as locações vistas em jogos anteriores, tambem exploramos novas áreas.
Mas Guybrush não esperava encontrar LeChuck Zumbi! Agora ambos voltam a travar sua rivalidade enquanto tentam desvendar os mistérios que a ilha ainda guarda, o que os espera? Bom, muitas aventuras e reviravoltas de tirar o juízo.
A linha tênue entre o sucesso e o fracasso
Quantas vezes já vimos “revivals” de jogos,séries ou filmes de décadas passadas que tentam reviver seus dias de glória puramente apoiados na nostalgia? Seria muito fácil repetir as mesmas mecânicas dos anos 90 e esperar que onjogo repetisse seu sucesso pois “nos anos 90 deu certo”. Felizmente Return to Monkey Island está ciente de que 30 anos se passaram e muita coisa mudou, por isso o jogo conta com modificações necessárias, principalmente quando se fala de sua gameplay e gráficos, mas a essência da franquia se mantém forte aqui, vamos abordar os tópicos aos poucos.
Point and Click
O gênero “Point and click ”, ou “aponte e clique” teve seus dias de glória mas atualmente não é a mecânica mais popular. Seria fácil deixar o jogo cair na monotonia e mesmice, mas felizmente o game consegue driblar essa possibilidade ao apresentar os puzzles com um bom espaçamento e variedade, embora alguns puzzles se repitam mais do que eu gostaria. Mas o que seriam esses puzzles? Bom, tem puzzle pra tudo, pense bem, você é um pirata tentando desvendar os mistérios da ilha, precisa coletar recursos, descobrir pra onde precisa ir, como, o que pode ser útil, o que é indispensável, como posso fazer um item, como desvendo o que a ilha guarda Etc.
Dificuldade
É possível escolher o seu nível de dificuldade: Casual ou difícil. Ambos apresentam as mesmas mecânicas, mas no modo difícil os desenvolvedores não tiveram misericórdia e tornaram certas quests bem mais difíceis não apenas na lógica, mas também na logística pra conseguir certas coisas. O nível difícil lembra muito a dificuldade do segundo jogo da franquia, no qual não era incomum passar um tempo considerável torrando neurônios e sentindo sua sanidade se esvair, muito bom, recomendo!
Para quem cansa de fritar o cérebro, não se preocupe, o jogo tem um “livro de dicas” que pode ser consultado, além de naturalmente te dar dicas durante a narrativa. Se você sente que a pista dada nos diálogos é o bastante, pode seguir sua intuição, sem medo! Mas se não está tão certo assim, terá uma ajudinha.
Diálogo é a base de todo re…jogo
Se você é desses que não presta muita atenção ou até mesmo pula diálogos, pode se complicar por aqui. A franquia é conhecida por sua qualidade narrativa, os diálogos são muito divertidos e nos guiam nos puzzles, não prestar atenção vai te prejudicar nos puzzles, além de perder o melhor elemento do jogo, principalmente porque há a opção legendas em PT-BR, mas a dublagem permanece em inglês. Com diálogos muito bem elaborados, a trama fluir muito bem, e você vai ficar muito, muuuito curioso para saber como tudo se resolve. É um jogo difícil de largar.
Para não dizer que tudo são flores, a repetição de alguns puzzles e a necessidade de retroceder vez ou outra não me agradou. Outro detalhe importante é que a nostalgia aqui vem de reencontrar personagens conhecidos e saber as narrativas anteriores, como conhecia os jogos anteriores da franquia, não tive dificuldade em acompanhar a narrativa, mas aqueles que conhecerem a franquia por esse jogo estarão perdendo parte da experiência. É como assistir Doutor estranho no multiverso da loucura sem ter visto Wandavision, você entende o que está acontecendo mas sente que perdeu um capítulo. Mas perto de todos os pontos positivos do jogo, esses detalhes não chegaram a me desconectar do game.
1990-2022
Os gráficos já não remetem aos pixels originais de 1990, mas é claro! Se passaram 30 anos. O jogo adota um estilo cartunesco e colorido 2.5D, bem distante do que foi visto na franquia até 2009. Mas funciona muito bem, e não é porque o jogo nostálgico mudou seus gráficos que isso o torna ruim. Os designs dos personagens são bem variados, e muito divertidos, e assim como as ambientações de cada parte da ilha, dão uma sensação de descoberta a cada nova área. É um jogo muito bonito que combina perfeitamente com a trilha sonora que dá todo o clima de ação, aventura e mistério necessários para a trama.
O veredito
Return to Monkey Island triunfa onde tantos outros falharam: inserir sua mídia em uma era distante de seus tempos de glória. Resgatando o estilo de gameplay, narrativa, personagens conhecidos, e até mesmo seus desenvolvido originais, o jogo diverte e cativa enquanto surpreende a cada nova descoberta. Ao casar a nostalgia com as novidades, mesmo após mais de 30 anos, parece que Monkey Island nunca foi embora. O jogo é mais amigável aos que revistam a franquia do que com aqueles que estão ingressando nela agora.