Com um rótulo típico de cinema europeu, Espírito de Família, nos apresenta uma história bastante comum em nosso dia-a-dia, que é a relação que temos com nossos entes queridos e como as atividades do cotidiano e os traumas do passado podem afetar essa relação. Com direção de Eric Besnard, o filme vem carregado das excentricidades europeias e que combina perfeitamente com a luz e paleta de cores escolhidas para a fotografia do filme.
Tudo começa com Alexandre (Guillaume de Tonquedec), um escritor insensível tentando redigir seu livro, no que aparenta ser um encontro familiar, porém essa atividade parece impossível, já que, a família interrompe o tempo todo. Irritado Alexandre se recolhe para o escritório de seu pai, mas isso não ajuda muito, pois após alguns instantes seu pai o procura. Com um discurso carregado de sentimentos, seu pai Jacques ( François Berleand), conta seus arrependimentos e como acha a vida curta, discurso esse, que foi totalmente ignorado por Alexandre. Segundos depois seu pai deixa o escritório e, ao sair, tem um mal súbito e acaba morrendo.
A família toda fica abalada, mas é em Alexandre que isso se revela mais fortemente, uma vez que, começa a enxergar e conversar com o espírito do pai. Essa situação faz com que ele converse sozinho e pareça louco perto dos outros, seu jeitão fechado causa distanciamento e estranheza nos outros, por isso ninguém o leva muito a sério, tentando lidar com esta peculiaridade, assim Alexandre começa perceber melhor como a morte do pai afetou a todos.
O primeiro é o seu irmão, Vincent (Jérémy Lopez), que ao contrário do irmão, é bem intenso, preocupado com a família, com a mãe Marguerite (Josiane Balasko), com a casa, com os itens carregados de significados e com sua esposa Sandrine (Marie-Julie Baup), que possui claros problemas psicológicos. O sonho de Vincent é ser fotógrafo, como o pai, porém nunca investiu na carreira por medo de viver na sombra de Jacques.
Em segundo vem Marguerite, que além de esposa e mãe, se revela uma mulher apaixonada pelo marido, dona de um temperamento forte e atitudes tempestivas. Cansada de como todas as lembranças do local onde vive a machucam, resolve vender a casa e os bens, também revelando que isso ajudaria a quitar as dívidas deixadas pelo marido. Outro ponto importante é a mágoa que sente de sempre ter um marido ausente e que não a levava em suas viagens.
Por fim, as pessoas ligadas a Alexandre, sua esposa Roxane (Isabelle Carre), que quase o abandonou por ser uma pessoa fechada e fria e seu filho Max (Jules Gauzelin) um menino bem quieto, porém muito esperto. A condição de morte de Jacques, fez com que toda a família interagisse, expondo seus sentimentos mais íntimos, encarando seus traumas e sendo obrigados a lidar com tudo isso, o que permitiu que todos enxergassem seus erros e reajustassem o rumo de suas vidas.
O filme é realmente bem interessante, seu caráter de comédia dramática permite abordar uma história séria de forma divertida e nos faz refletir sobre nossas atitudes, principalmente com aqueles bem próximo a nós. A trama nos abre os olhos sobre o impacto que estas pessoas geram em nossas vidas. De maneira leve e simples o filme agrada muito, além de passar uma mensagem importante a todos.