Escritores da Liberdade – A história ignorada

Para a coluna de hoje, resolvi resgatar um filme de 2007, que deveria ser um clássico obrigatório, mas infelizmente assim como a história que ele conta, acaba por ser esquecido. Uma história linda, que toca com leveza em assuntos polêmicos, como a violência, o racismo, as crueldades nazistas, as falhas do sistema, tanto o de ensino, quanto o social, mostrando claramente as diferenças de classe e cor.

O prólogo da história já apresenta um monólogo empolgante mostrando como acontece a vida de pessoas de cor ou etnia diferente e pertencente as classes sociais menos favorecidas, uma mescla de segurança do lar protegido por seus pares e a influência externa, invadindo e atacando este porto seguro sem nenhum escrúpulo ou respeito. Quanto a violência? Esta aparece impregnada de várias maneiras por todo o enredo, muitas vezes distorcida, exatamente como acontece na vida real.

Em seguida, o filme apresenta Erin Gruwell (Hilary Swank), uma jovem professora designada para lecionar em uma turma composta principalmente por alunos problemáticos, negros, latinos e asiáticos que enfrentam situações sociais desfavoráveis e recebem forte influência de gangues criminosas, uma realidade ainda muito comum nos dias de hoje. Após muita luta e discussões, a senhorita Gruwell começa entender a realidade de seus alunos e modifica sua maneira de ensinar, ganhando assim, o interesse da turma.

O segundo passo da senhorita Gruwell também é outra batalha, essa talvez mais dura e cruel que a primeira, uma vez que acontece contra as pessoas responsáveis por fazer fluir o sistema de ensino, o corpo docente da instituição. Ao tentar buscar recursos para melhorar sua didática Gruwell se depara com uma administração que não acredita na recuperação daquele grupo de alunos e nega auxílio, mostrando desdém e preconceito.

Como se tudo isso já não fosse ruim o suficiente, Gruwell enfrenta mais uma batalha, desta vez pessoal, contra seu marido e seu pai, sendo o primeiro um frustrado, machista, ignorante e sem expectativas para um objetivo de vida, o segundo exibia um perfil semelhante, porém não era frustrado e incapaz de sentir empatia. Os dois representam muito bem os privilégios da raça branca.

Todos estes empecilhos não impediram Gruwell de lutar pelos seus objetivos, para resolver o problema da falta de verba, ela acaba assumindo mais dois empregos, isso possibilitou que ela pudesse oferecer aos alunos mais qualidade de ensino e apresentou uma perspectiva de mundo diferente da vivenciada por eles, mas ao mesmo tempo, destruiu seu casamento, já que seu marido não conseguia entender seu comprometimento com aquele problema social.

Claro que toda esta dedicação rendeu frutos, sendo o principal deles os diários escritos pelos alunos e a popularidade que isto trouxe, além do comprometimento com os estudos, o que gerou um aumento significativo da média das notas escolares. Mas obviamente também trouxe o descontentamento da administração, que temia ser vista como inconsequente, fato que ficou bem evidente quando os alunos manifestaram o desejo de continuar coma professora nos últimos dois anos de formação e esbarraram na burocracia administrativa.

Um dos grandes feitos desta história foi fazer com que todos estes diários rendessem um livro, (The Freedom Writers Diary), de mesmo título que o filme, é impressionante ver como ela lutou para quebrar paradigmas e apresentar soluções para a melhoria, não só do estudo, mas também do relacionamento social. Engraçado como este drama leve, quase biográfico, funciona tão bem. Recomendo a todos que assistam e reflitam sobre sua própria vida e como poderia ajudar a melhorar a vida do próximo e a sociedade onde vive.

O filme é baseado em uma história real e de um certo ponto, o roteiro utiliza da velha receita de sucesso, com atos grandiosos e agitados  para dar corpo e empolgação ao filme, mas em nenhum momento isso desmerece a história, pelo contrário, mantém o espectador alerta e permite que as sutilezas de inúmeras cenas curtas e fora do contexto escolar, agreguem beleza e qualidade ao filme.