Zaborgar: Robôs, karatê, tentáculos e diabetes!

E aí, meus lindos! Sentiram minha falta? Não precisam responder porque eu sei que não… Mas mesmo assim estamos de volta com o Porão do Tokusatsu! Essa semana eu enfrentei um dilema: por um lado eu tinha prometido que não falaria de mais um toku dos anos 70, mas por outro eu quero muito falar de mais um toku dos anos 70. Para não ser (tão) hipócrita, resolvi escolher o caminho que junta o melhor dos dois mundos e falar de um filme de 2011 que é remake de uma série velha! Hah, eu sou mesmo um gênio. Então coloquem seus capacetes, vistam seus gi de karatê e preparem a injeção de insulina para vermos Karate-Robo Zaborgar!

Sinopse:

Após o falecimento de seu pai cientista, o policial Yutaka Daimon herda um robô guerreiro chamado Zaborgar. Equipado com um arsenal de armas, domínio do karatê e a habilidade de se transformar em uma motocicleta, Zaborgar é único parceiro de Daimon na batalha contra Sigma, uma organização maligna que está armazenando os DNAs de políticos japoneses para uso em uma arma misteriosa.

©Nikkatsu

Antes de falar do filme em si vale a pena dar uma pincelada rápida na série original. Denjin Zaborger (algo como “homem-eletrônico Zaborger”) foi o último tokusatsu da P Productions na década de 70, que o povo do Brasil deve conhecer graças à Lionman e Spectreman. Era estrelada por Akira Yamaguchi como o detetive carateca Yutaka Daimon. Os fãs mais fanáticos devem reconhecê-lo como Riderman, o parceiro de Kamen Rider V3. O diferencial de Zaborger era o herói humano não se transformava, apenas lutava lado à lado com seu robô. Tipo Medabots, só que muito, muito mais da hora!

Zaborger teve seus 52 episódios, foi prontamente esquecido logo depois, apenas mais uma das milhões de séries da década junto de Barom-1, Kyodain ou Ninja Arashi. E teria continuado assim se não fosse por um gordinho bizarro chamado Noburo Iguchi.

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Iguchi é um diretor, roteirista e escritor japonês, famoso por seus filmes pornôs, de terror e as vezes os dois ao mesmo tempo. Uma rápida olhada no IMDB revela títulos que fazem os olhos de qualquer fã de cinema bizarro brilhar: RoboGeisha, Zombie Ass, Dead Sushi e, é claro, Karate-Robo Zagorgar! Iguchi tinha 5 aninhos quando o original passava na televisão então com certeza o cara assistia e era fã – e o que acontece quando um pornógrafo mestre do horror gore resolve fazer um filme de ação e aventura? Algo mágico, meus amigos. Mágico!

O filme começa no pássado, com o jovem Yutaka Daimon (interprado por Yasuhisa Furuhara, famoso por Go-Onger) no meio de sua batalha mortal contra a gangue Sigma, um bando de terroristas do mal que odeiam o bem e querem dominar o Japão/mundo com seu exército de robôs assassinos. Daimon é um agente especial da polícia japonesa, e luta junto com sua moto-que-se-transforma-em-robô, o Zaborgar do título. O robô é uma herança do pai de Daimon, que era um cientista (pais de heróis de tokusatsu dos anos 70 eram sempre cientistas) e criou o garoto sozinho após a morte da sua esposa, então deixou o Zaborgar para ser um “irmão” para Daimon.

Ah, e o pai amamentava o filho. Com os peitos mesmo, saía leite e tal. Não, não explicam como.

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E caso não tenha ficado claro o filme é todo temperado por essas bizarrices escatológicas: a base dos vilões parece um saco (bolas mesmo, um escroto), as vilãs tem DRAGÕES no lugar dos peitos e temos até a aparição do adorável androide “Robô Diarréia“. Mas a parte mais interessante é a decisão de dividir o filme em duas linhas do tempo: primeiro acompanhamos Daimon jovem em sua luta contra Sigma seguindo bem os padrões da série original, onde ele conhece e tem um caso amoroso com uma das vilãs ciborgues (rola até uma cena de… vamos chamar de “sexo”).

Mas depois saltamos 25 anos no futuro, com um Daimon mais velho (agora o comediante Itsuji Itao), enfrentando uma crise de meia-idade e sofrendo as consequências de comer muito bolinhos quando era garotão: diabetes! Mas mesmo com todas essas dificuldades Daimon retorna a luta para enfrentar seus antigos inimigos da Sigma, agora com a ajuda de uma versão renascida do Zaborgar. Ah é, e o robô também ganha uma namoradinha mecânica. Por que não, né?

©Nikkatsu

Karate-Robo Zaborgar traça uma linha fina e tênue entre a paródia e o amor de fã. Em meio a todo o humor perturbado de Iguchi (eu nem mencionei a mulher gigante…) dá pra perceber que o diretor realmente curte o material. O filme consegue falar sobre relacionamento complicado entre pais e filhos e ainda assim mostrar robôs lutando muay-thai e mulheres que atiram mísseis pela boca. E se você não consegue apreciar isso não sei se ainda podemos ser amigos.

O filme ficou por muito tempo no catálogo nacional da Netflix, então é capaz que eventualmente ele apareça de novo. Recomendo pra quem nunca experimentou esse tipo de filme da terra do Sol-Nascente! E se você já assistiu algum outro filme do Noburo Iguchi comenta aí nos comentários. Pessoalmente eu amo The Machine Girl, mas isso fica pra próxima vez que eu abrir as portas do Porão…