Viver Duas Vezes é um daqueles filmes leves, cheio de emoção e superações, permite que o espectador seja transportado para aquela realidade e faça diversas relações com a vida real, a típica história clichê que todos nós adoramos! Um dos primeiros lançamentos deste ano na plataforma da Netflix. A direção é de Maria Ripoll e conta com a presença de dois atores bastante conhecidos do cinema espanhol: Oscar Martínez (Cidadão Ilustre) e Inma Cuesta (Todos já sabem).
O filme conta a história de Emilio (Oscar Martínez), um professor de matemática aposentado e viúvo, fascinado por desafios Sudoku, o qual ele insiste em chamar de quadrado mágico, cheio de hábitos e modos antiquados, um pouco ranzinza, comportamento comum em pessoas com mais idade. Ele faz de tudo para fugir do convívio com sua família, que em oposição ao estilo de vida de Emílio, leva uma vida moderna e antenada. Seria tudo comum, se não fosse por um detalhe, Emilio foi diagnosticado com Alzheimer.
A rotina de Emilio consiste em tomar seu café em uma lanchonete próximo a sua casa e resolver seus quadrados mágicos, no entanto, em um de seus exames de rotina, Emilio descobre sua doença, ele tenta esconder da família, mas por ironia do destino acaba encontrando sua filha Julia (Inma Cuesta), que trabalha como representante comercial e estava no hospital justamente no mesmo momento.
Após a consulta Julia convida seu pai para um almoço em sua casa e então o restante da família nos é apresentada, o marido de Julia é Felipe(Nacho López), um figurão que acha que é coaching, sua filha pré-adolescente Blanca (Mafalda Carbonell), uma atriz mirim muito fofa, que transmite todo seu carisma, mesmo sendo sua primeira atuação no cinema.
Durante o almoço é possível notar a crítica que o roteiro faz aos hábitos e relacionamentos contemporâneos, deixando claro as diferenças entre as três gerações envolvidas. Julia, decide ficar de olho no pai e o convida para morar com eles, Emilio nega e então uma condição é imposta a ele, poderá continuar com sua rotina, mas terá que usar um celular para se manter acessível. Sua neta, Blanca foi incumbida de aplicar o aprendizado, mas Emilio é uma pessoa que se mantém resistente a evolução tecnológica.
Blanca é provocadora e não liga muito para o avô, porém sua habilidade com o celular, típico dos nativos digitais, desperta a curiosidade de Emilio, que acaba deslumbrado com as facilidades da internet e decide procurar o paradeiro do grande amor da sua vida, Margarita (Isabel Requena). Após algumas desilusões com as atitudes do seu pai, Blanca começa a passar mais tempo com seu avô, começa então uma relação especial.
Um dia, após a aula, Blanca encontra Emilio de malas prontas e partindo em busca de Margarita, rapidamente ela embarca nesta aventura. Com as crises de Alzheimer cada vez mais frequentes, a viagem mal chega à metade e Blanca precisa pedir socorro aos seus pais. Julia e Felipe vão ao encontro da dupla e chegando lá descobrem o plano deles, Julia fica um pouco confusa, mas Emilio argumenta que deseja muito encontrar Margarita antes que ele acabe se esquecendo dela, comovida Julia resolve ceder aos desejos do pai e a jornada continua.
Toda a viagem acaba em nada, não foi possível encontrar a Margarita, todos voltam para casa arrasados e as crises de são cada vez mais frequentes. Mas Blanca não desiste facilmente e através de uma rede de contatos e com a ajuda da internet consegue localizar Margarita, que coincidentemente está morando na mesma cidade que eles. O encontro de Emilio e Margarita é um momento bem impactante, não somente pelo fato de ser o amor da vida dele, mas também pelo fato dela sofrer de demência senil e já não ter mais conhecimento da realidade.
A partir deste ponto a história é bem previsível, mostra uma grande evolução da doença e as alterações no comportamento de Emilio, ele já não pode ficar sozinho e sua memória está presa em poucas lembranças. Com o quadro bastante crítico, Emilio é entregue a uma casa de repouso com os cuidados necessários, a grande surpresa da trama é a presença de Margarita, um final feliz mesmo que eles não se lembrem, um final com referência nas primeiras cenas, que retrata a juventude dos dois, um final escrito para agradar a todos os espectadores.
A atuação de Oscar Martínez é sensacional, a representação dos lapsos de memória, o olhar perdido e assustado, os momentos de ira e a regressão comportamental que esta doença causa são bem reais, somente quem já testemunhou tudo isso consegue reconhecer o empenho do ator. Porém, o restante é ok, nada muito mirabolante ou inesperado, um filme certinho, vale a pena assistir, mas é bem possível que não te tire o fôlego.