Ah, demorou mas finalmente chegamos no futuro! O ano de 2020 promete muitos avanços tecnológicos e coisas incríveis… então que tal ignorarmos tudo isso pra focar em algo de 30 anos atrás?
“Mas Caio, seu ignóbil, o filme americano de Dragon Ball não é assim tão velho!“, grita uma voz distante. Mas é aí que você se engana, meu jovem leitor bebedor de mucilon™! Não vou sujar meu bem cuidado Porão com aquela abominação hollywoodiana que ousou se chamar de “Evolução” mesmo enfiando o Goku no Ensino Médio. Na verdade vamos falar de um filme mais velho que a maioria de vocês, o clássico (?) de 1991 新七龍珠 神龍的傳說, mais conhecido como Dragon Ball: The Magic Begins, diretamente de Taiwan! Então peguem seu radar, subam na nuvem voadora e vamos procurar as Esferas do Dragão!
É dolorosamente óbvio apontar que a franquia Dragon Ball é um sucesso – afinal é um dos animes mais populares de todos os tempos, transcendendo gerações e blá-blá-blá. Mas o que muita gente esquece é que enquanto a história de Goku e sua trupe só começou a fazer sucesso mundial com fase Z do anime lá pro início dos anos 2000, na Ásia a história era outra.
China, Taiwan, Filipinas e outros países do continente já estavam lendo e adorando as aventuras do Goku ainda criança, muito antes de Andróides e Saiyajins e Fusões! Não que isso fizesse muita diferença para os donos da marca já que isso era tudo na base da boa e velha pirataria. Isso mesmo, muito antes de scanlations e rips de bluray sem censura os caras já pirateavam o mangá de Dragon Ball físico, vendendo na banca mesmo! Numa qualidade porca e tradução questionável, mas a gente trabalha com o que tem, certo?
E agora você entende o contexto por trás do filme de hoje. O pessoal da Filmswell International de Taiwan achou que seria uma boa ideia basear seu próximo filme de kung-fu nas histórias de Goku e sua trupe. E faz sentido, não? Afinal, Dragon Ball nasceu como uma paródia/homenagem aos clichês de filmes de kung-fu dos anos 70! Mas aí encontramos um problema, o mesmo que os produtores do vindouro filme americano também encontraram: como diabos adaptar a história serializada de Dragon Ball numa estrutura de três atos?
Bom, os americanos engravatados “resolveram” (foco nas aspas) a questão mudando quase tudo até terem um roteiro que lembra um pouquinho a história original, mantendo basicamente só os nomes dos personagens… Mas nossos intrépidos amigos de Taiwan pensaram numa solução bem mais elegante: pra quê ficar criando um roteiro de filme pra Dragon Ball sendo que já existe um?
Em 1986 foi lançado no Japão Dragon Ball: A Lenda de Shenlong, filme animado que reconta o primeiro arco do mangá de forma mais coesa e com um vilão mais presente. E foi justamente daí que The Magic Begins (que de agora em diante vou chamar só de TMB) tirou quase todo seu conteúdo. A única diferença é que o design do vilão é mais próximo do Lúcifer do segundo filme, mas tudo bem.
Em mandarim (que é a língua falada em Taiwan, caso você achasse que eles falavam taiwanês) os nomes permaneceram os mesmo que já usavam no anime – Son Goku é Sun Wukong e por aí vai – mas é quando vamos assistir a dublagem americana que magia realmente começa, se é que me permitem o trocadilho.
Nosso protagonista Son Goku (que não tem rabo) é Monkey Boy, Bulma virou Seetoe, vovô Gohan (que está vivo nessa versão!) é Sparkles… Mas o melhor de todos é o Yamcha. Nosso querido (?) bandido do deserto, usuário do mortal rogafufuken ganhou o novo nome de WESTWOOD. Ah, e as Esferas do Dragão agora são Pérolas do Dragão, só pra deixar mais confuso mesmo.
Ao se deparar com um filme feito ilegalmente, com uma caracterização bem aleatória e nomes todos trocados vocês devem imaginar que se trata de algo péssimo, não é? Mas e se eu disser pra vocês que TMB é bom? Não “tão ruim que é bom” nem nada, apenas pura e simplesmente bom mesmo!
A história é simples mas funciona bem, dando propósito para todos os personagens. Os efeitos especiais são de baixo orçamento mas tão bons quanto possível (os caras não economizaram em explosões, tem uma a cada minuto!) e, claro, o TMB sabe focar no mais importante: LUTAS e COMÉDIA.
TMB manteve o kung-fu veloz e empolgante das primeiras fases do mangá (antes dos personagens passarem 4 episódios gritando e soltando raios) juntamente do humor escrachado e chulo que o Toriyama tanto gosta. Caramba, temos uma cena imensa do Mestre Kame (aqui simplesmente Turtle Man) dançando sua música-tema e depois tentando laçar a Nuvem Voadora! E a porradaria não fica atrás: o primeiro encontro de Goku e Yamcha foi de uma peleja rápida no original para uma cena longa com direito à Bastão Mágico e tudo mais. Diabos, até a Bulma mata um vilão usando uma bazuca.
TMB é um filme divertidíssimo pra quem curte cinema wuxia e ainda mais divertido pra quem é fã de Dragon Ball. O roteiro até consegue enfiar algumas referências à obra literária que inspirou Akira Toriyama, Jornada Para o Oeste (o filme deixa implícito que Goku e Oolong seriam descendentes de seus equivalentes da história clássica). E a melhor é parte é que como se trata de um filme não-oficial você pode assistir completinho no youtube sem nenhum peso na consciência.
E assim começam os Anos 20! Meu Porão continua bem cheio e vou continuar resgatando pérolas pra vocês… Tem até um outro filme pirata de Dragon Ball, feito na Coréia… Quem sabe depois, né? Até lá, lembrem-se que a fantástica aventura vai começar, neste mundo chance igual nunca mais terá!