BoJack Horseman é uma animação única entre os seriados adultos produzidos na última década. Ambientada inicialmente no coração da indústria cultural estadunidense, Hollywood, a série foca no personagem titular, um ator que nos anos 90 estrelou um sitcom de muito sucesso, e nas questões que o perpassam e o resto do elenco. BoJack, como eu chamarei este desenho doravante, estreou em 2014 com avaliações mistas, com vários críticos comentando uma diferença de qualidade entre as duas metades da primeira temporada.
BoJack, adianto, é uma das minhas animações favoritas de todos os tempos. Foi lançada em um momento importante para mim, com a sua narrativa genuína e franca, além de hilária. Apaixonei-me logo à primeira vista e acompanho a série desde o seu ano de estreia, o que me deixa mais empolgada com a segunda metade da última temporada, cujo lançamento está programado para 31 de janeiro de 2020. Por essa razão, estou produzindo essa série de críticas semanais de BoJack, com a sétima e última acompanhando o final da sexta temporada.
BoJack Horseman, o personagem (Will Arnett) não o desenho, é um indivíduo muito atormentado: de ego enorme, traumas, e com pensamentos permeados por fantasmas. No começo da história, ele assina os direitos de sua história de vida para serem adaptados em uma biografia, essa escrita por Diane Nguyen (Alison Brie). Esse momento estabelecido logo no início é o que abre as portas para o estudo de personagens delicado e atento pelos produtores, desencadeando então toda a narrativa ímpar do seriado.
Diferentemente de outras séries animadas cujos episódios contam uma história contida a cada capítulo, BoJack aproveita-se do formato da maratona proporcionado pelo lançamento da temporada inteira simultaneamente, próprio de serviços de streaming. Seu criador, Raphael Bob-Waksberg, comentou em entrevista para o Cinesnob como esse formato ajudou a definir a narrativa: “Eu acho que nós aprendemos mais ou menos pela televisão que se fizermos aquilo que é certo, coisas boas acontecerão e tudo vai se ajeitar ao final dos 30 minutos de duração de um programa. Bem, a verdade é que isso nem sempre acontece. ‘BoJack’ é um programa que resiste de verdade à ideia de finais. Não existe isso de final feliz ou triste pois a vida apenas segue adiante. Você não pode simplesmente dizer, ‘Finalmente! Eu entendi! As coisas estão bem agora!’. A vida continua rolando.”
Aproveitando-se da sua continuidade sólida, BoJack leva a sério as consequências dos atos do seu elenco, desenvolvendo uma história rica carregada de temas relacionados à indústria cultural estadunidense, como o lado vazio e solitário do sucesso, por exemplo. Contudo, a série é, antes de tudo, um programa de comédia e, ainda que seus momentos dramáticos sejam construídos de maneira elegante e sensível, os produtores jamais se abdicam do humor nas cenas, tornando então o programa uma obra híbrida muito equilibrada entre o riso e o choro.
Como os outros críticos, concordo que há uma diferença de qualidade entre os primeiros e os últimos episódios desta temporada – no entanto, é notável como são encaixadas as primeiras peças no tabuleiro as quais lentamente constroem a sua sequência narrativa. BoJack consegue ser brilhante elevando detalhes interpessoais – como comentários soltos, reações de personagens, ou mesmo piadas visuais – a uma relevância estratégica mais à frente.
Essa primeira temporada é o gosto introdutório de uma série absurda que, como as fábulas de Esopo, abordam histórias extremamente humanas com animais. Envolvente desde o primeiro instante, o espectador é cativado pelas tramas autênticas, cuja realidade soa muito próxima da nossa. Mal posso esperar para abordar o resto da série aqui.
Você pode assistir a BoJack Horseman pelo serviço de streaming da Netflix.