O tokusatsu como gênero de cinema japonês têm suas raízes no primeiro filme do Godzilla, em 1954 pela Toho. Desde então inúmeras criaturas gigantes foram aparecendo. Temos os kaiju de primeiro escalão, como Mothra e King Ghidorah, alguns monstros mais cults como Jet Jaguar e Biollante, e alguns que mesmo o fã mais dedicado as vezes custa a se lembrar, como Gabara e Kamacuras… Mas e se eu te falar que existe um kaiju tão obscuro, mas tão obscuro que ele nunca apareceu? Parece loucura mas é só a verdade! Hoje vocês vão conhecer a história do monstro que nunca teve sua chance de brilhar, Bagan!
Bagan apareceu oficialmente no jogo Super Godzilla para o Super Nintendo em 1993, onde era o chefão final. Só que ele não foi criado para esse game, suas origens são bem mais antigas. O ano era 1980 e não tínhamos um filme do Godzilla desde 1975, com o segundo filme com Mecha Godzilla. Um dos cabeças da Toho, Tomoyuki Tanaka, já estava confabulando planos para um retorno do Big G, um reboot completo da franquia.
Tanaka queria deixar para trás a pegada mais leve da primeira leva de filmes e resgatar o teor sério do filme original de 54, amadurecendo a franquia para os novos tempos e rumo ao novo século. Sua idéia se chamaria A Ressurreição de Godzilla, onde veríamos uma versão repaginada do Rei dos Monstros enfrentando um novo adversário… Bagan! Na proposta levada aos executivos da Toho, Bagan era um demônio antigo com poder de mudar de forma para se adequar ao ambiente – um macaco para lutar na terra, uma criatura marinha para a água e um dragão para voar. Era um adversário como Godzilla jamais tinha enfrentado… E nem enfrentaria.
A idéia do filme foi recusada e o conceito de Bagan foi engavetado. Tanaka tentou um novo pitch três anos depois, mas foi novamente recusado. Godzilla realmente ressurgiu em 1984 com uma nova leva de filmes de sucesso, hora perfeita para Bagan voltar, certo? ERRADO! Pra vocês terem idéia praticamente todos os filmes da Era Heisei da franquia (de 1984 até 1995) começaram seus projetos com Godzilla enfrentando Bagan!
E porque o pobre monstro nunca conseguiu ir pra frente? Na real Bagan é um caso simples de má sorte: ele sempre perdeu seu lugar nas produções cinematográficas por que a Toho preferiu investir em alguma criatura já conhecida (ou seja, com maior valor de mercado) ou por problemas de orçamento envolvendo suas três formas. Até mesmo quando a Mothra ganhou uma trilogia própria (entre 96 e 98) eles preferiram tirar o Bagan como vilão e colocar uma versão pré-histórica do Ghidorah… É muito azar.
“Mas Caio, seu mentecapto!“, você grita enquanto soca a tela do computador, “Se o Bagan nunca apareceu em filme como tem todas essas imagens ilustrando a matéria? Você é um mentiroso e Kong Versus Godzilla vai ser um fracasso!“. Primeiro de tudo, Kong Versus Godzilla nunca será um fracasso no meu coração, e é isso que importa. E essas imagens são só algumas das dezenas que temos. Como eu disse lá em cima, Bagan foi cogitado pra inúmeros projetos e em muitos até entrou na fase de storyboard e character design.
Temos grandes nomes que já criaram visuais pro Bagan, como Shinji Nishikawa, Yasushi Nirasawa, Minoru Yoshida e muitos outros. Recomendo fortemente que procurem mais imagens do bichão, tem coisas incríveis passando desde inspirações satânicas até elefantes. Não, sério mesmo!
Enfim: ainda há esperança pro Bagan? Sim e não. Ele apareceu no jogo interativo Godzilla Movie Studio Tour pros PCs em 98 (num design totalmente diferente), e a Toho mantém sua marca registrada até hoje. Acho muito improvável vermos um Godzilla Vs Bagan nessa década mas até aí coisas mais estranhas já rolaram, tipo quando o Godzilla enfrentou uma lagosta gigante e… Bom, vocês entenderam. Até lá, eu sigo aqui no meu bom e velho Porão torcendo pra um dia ver o filhote do Tanaka brilhar nas telonas. Ou que botem mais uma lagosta gigante, seria top também.