A vida nunca foi fácil para Anne Shirley, mas mesmo assim ela nunca desistiu de ser heroína de sua própria história. Nas várias adaptações da história do livro Anne de Green Gables temos Anne demonstrada como uma garota determinada a mudar todos ao seu redor. Logo, na adaptação para animação japonesa que essa obra ganhou, conhecida como Akage no Anne, temos também uma história singela sobre a garota de cabelos ruivos.
Akage no Anne (tradução: Anne dos Cabelos Ruivos), lançado no ano de 1979, foi adaptado da obra da escritora canadense Lucy Maud Montgonmery. O anime foi produzido pelo estúdio Nippon Animation, como parte do projeto World Masterpiece Theater, conjunto de animes baseados em histórias de livros clássicos. Quem dirigiu o anime foi Isao Takahata e, vale ressaltar que, Hayao Miyazaki ficou encarregado nas produções dos cenários e layouts de cena. Os dois são os co-fundadores do Studio Ghibli, criado em 1985.
O anime conta com 50 episódios e a animação chegou a ser dublada para uma versão de português de Portugal. O estúdio mais tarde fez uma versão da história de Anne, que se passava antes da garota ser adotada e ir para Avonlea. Esta versão se chama Konnichiwa Anne: Before Green Gables, conta com 39 episódios e foi lançado em 2009.
A história do anime se passa no Canadá, na Ilha do Príncipe Eduardo no final do século XIX. Acompanhamos Anne, uma pequena órfã que é sonhadora, corajosa e alegre. Ela acaba sendo adotada pelo casal de irmãos Marília e Matthew Cuthbert. Entretanto os dois queriam adotar um garoto para ajudar na fazenda da família. Apesar da confusão, Marília e Matthew decidem ficar com Anne.
O impacto singelo de Anne em “Akage no Anne”
Contextualizando, a história se passa em 1876, época da Segunda Revolução Industrial. Enquanto o mundo corria para descobrir e testemunhar as maravilhas da eletricidade, na Ilha do Príncipe Eduardo, a vida parece seguir um curso totalmente diferente. Os personagens seguem uma vida rural em Avonlea, cidade que se passa a história de Anne.
Para quem tem um pouco de familiaridade com a obra, sabe que a protagonista Anne se destaca pela sua personalidade. Além se ser alegre e sonhadora, é curiosa e gosta bastante de ler livros. Tanto sua grande imaginação, como a leitura, são um escape para a garota para conseguir se manter sempre animada. Portanto, o amor pela literatura e pelo imaginário molda a personalidade radiante de Anne. Esse é um dos pontos fortes da animação, vemos uma personagem profunda, bem construída, ou seja, bastante humana.
Anne consegue inspirar outros personagens da história, como o próprio Matthew que é um personagem introvertido, mas aos poucos se vê pronto para se aventurar em uma aventura diferente do que ele está acostumado. Marília também é outra personagem que é inspirada por Anne, onde a mesma começa aos poucos a perceber que nem todas as mulheres necessariamente precisam ser donas de casa e que as garotas também podem escolher o futuro que elas querem trilhar.
Outra personagem que devemos destacar é Diana, a garota que torna-se a melhor amiga de Anne. Diana também tem a questão muito forte sobre a questão de mulheres poderem escolher o que querem fazer no futuro, já que os pais dela trilharam todo o futuro da garota, mesmo que ela não concordasse com as escolhas. Então a amizade com Anne faz com que a personagem reflita essa questão, além da amizade inspiradora entre as duas, por sua sinceridade.
Logo, com passar do tempo, acompanhamos o desenvolvimento de Anne, não só de tamanho, mas um crescimento interno. Anne vai se tornando mais independente e responsável. Ela aos poucos vai sendo respeitada, não só pelos personagens de seu ciclo social, mas também pelos outros alunos de onde estuda e pelas pessoas mais velhas de Avonlea. Anne, ainda sonhadora, agora ela vai priorizar suas ambições e objetivos de vida.
Adaptações de “Anne de Green Gables”
Além do anime de 1979, a história de Lucy Maud Montgonmery ganhou várias adaptações, desde filmes, tanto para cinema e para a televisão, como também séries de televisão. Porém o que foi mais impactante é a adaptação da Netflix junto com o canal canadense CBC, Anne With an E. Aqui a protagonista, interpretada pela atriz Amybeth McNulty, também demonstra as fortes peculiaridades da personagem Anne. A série também chega a debater temas muito importantes como gênero, sexualidade, racismo e conservadorismo.
Sobre a diferença entre a série Anne with an E e a versão animada Akage no Anne, podemos citar primeiramente o tom que a série leva. Em Anne with an E, a narrativa tem um tom mais pesado para a apresentação do passado de Anne, reforçando o passado complicado que a garota passou, perdendo seus pais e sofrendo abusos da família adotiva e bullying das garotas do orfanato. A série tenta demonstrar esse tema com várias cenas, com um tom mais sombrio, para mostrar como isso impactou negativamente a vida de Anne. No entanto,, mesmo passando por momentos difíceis, a protagonista nunca deixou de ser autêntica às suas emoções e pensamentos.
A série também tem outra grande diferença do anime e também dos livros. Moira Walley-Becket, a criadora da adaptação da série de 2017, apresenta novos personagens para a trama e, dessa forma, cria novos conflitos. Na segunda temporada da série, somos apresentados ao personagem Sebastian (Bash) e a Mary, que Gilbert os conhece após sair de Avonlea ao viajar logo após a morte de seu pai. Os dois se casam e tem uma filha chamada Delphine. Outro núcleo original da série é de Ka’kwet que Anne conhece na terceira temporada. E também o personagem Cole, amigo de Anne, que se assume homossexual na trama. Moira consegue trazer personagens cativantes, que precisam sobreviver a momentos difíceis, típicos daquela época.
Sobre Akage no Anne, podemos fazer uma comparação da animação com alguns filmes do Studio Ghibli. Takahata, o diretor, consegue nos trazer a história de uma grande protagonista, com uma narrativa que impacta muitos que assistem, assim como as protagonistas dos filmes da Ghibli. São garotas independentes, que lutam com resiliência para superar e sobreviver momentos difíceis, não cedendo à pressão, independentemente da situação.
Dessa forma, Anne acaba inspirando os espectadores, principalmente o público feminino. A personagem estimula as garotas serem esperançosas, independentes e corajosas. A priorizarem seus estudos para trilhar seu futuro, pois as garotas podem tudo.