Em Não olhe para cima, Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio são dois astrônomos que, ao descobrirem um asteroide, precisam convencer as pessoas e as autoridades de que a extinção da humanidade se aproxima. O filme estreou no dia 24 de dezembro de 2021 e está disponível na Netflix.
A ARTE IMITA A VIDA
É impossível assistir Não olhe para cima e não pensar na situação atual do mundo. O asteroide que ameaça a vida na Terra não deixa de ser uma forma de retratar os efeitos da descoberta do Coronavírus. É Kate (Jeniffer Lawrence) quem descobre o asteroide durante uma de suas pesquisas. Ela chama Dr. Randall (Leonardo DiCaprio) para que os dois façam o cálculo de sua trajetória. É com espanto que eles concluem que o asteroide se chocará com à Terra em pouco tempo.
A partir daí, é uma luta constante para os dois astrônomos convencerem as autoridades de que o perigo é sério e eles precisam tomar alguma providência. Desde o primeiro momento, o assunto é tratado com desdem pela presidenta dos Estados Unidos (Meryl Streep) e demais autoridades, que não acreditam nos dados científicos dos dois cientistas. Algo que vimos frequentemente nesses últimos anos com a pandemia. Cientistas não sendo levados a sério, apesar de todos os dados para embasar suas conclusões sobre a importância de combater a COVID.
MACHISMO NO MEIO CIENTÍFICO
Além do negacionismo ser retratado no filme perfeitamente, “Não olhe para cima” também toca em diversos outros assuntos pertinentes. Um deles é o machismo no meio científico que a personagem Kate sofre. Kate é a pessoa que descobre o asteroide, tanto que ele recebe seu sobrenome. Mas isso não interessa para as pessoas. Todos a veem como uma mulher histérica.
Isso fica explícito depois dela não aguentar a forma como os apresentadores Brie e Jack (Cate Blanchett e Tyler Perry) lidam de forma leviana com a situação. A crítica aqui também é com a maneira com que a mídia lidou com as notícias sobre a COVID. Podemos até relacionar com o caso da microbióloga Natalia Pasternak, que é idêntico ao da personagem Kate.
Ou seja, uma mulher, mesmo com os conhecimentos e habilidades de Kate, que poderiam até salvar o mundo, não é levada a sério. Enquanto isso, Randall fica famoso e não recebe o mesmo tratamento de Kate. Pelo contrário, ele vira um galã e cai das graças do público. Não só Kate sofre, mas também Teddy (Rob Morgan), um homem negro, que não é ouvido uma vez sequer no filme. A atenção recai toda sobre o cientista branco e bonitão.
E AS AUTORIDADES?
Estamos vendo diariamente como a forma com a qual as autoridades lidam com a seriedade da COVID impacta a forma como as pessoas lidam com isso. A ligação de autoridades da vida real com personagens de Não olhe para cima não é por acaso. A personagem de Meryl Streep, por exemplo, é claramente uma referência ao ex-presidente estadunidense Donald Trump. Até mesmo as cenas de campanha dela são idênticas as dele.
Ela pode também representar alguém mais próximo de nós aqui no Brasil. A pessoa que é, com certeza, a definição do negacionismo retratado no filme, o presidente Bolsonaro. Até mesmo seu filho parece com o filho da presidente interpretada por Streep. Pessoas que não fazem nada de produtivo para combater um mal sério. Eles ainda atrapalham aqueles que só querem ajudar, como Kate e Randall no filme, que tentam alertar a população.
O filme é uma sátira, é para ser engraçado, mas é normal que muitas pessoas não tenham achado graça do filme. É compreensível, pois já estamos cansados da forma como as coisas estão sendo tratadas no mundo. Mas Não olhe para cima é, com certeza, um filme importante para jogar na cara do público a seriedade do momento sociopolítico que estamos vivendo hoje no mundo todo.