Precisamos falar sobre a tal censura nos animes

Tokyo Revengers

Que existem várias censuras em alguns dos nossos animes prediletos, nós já sabemos. Mas, até que ponto essa censura é saudável e até onde ela é abusiva? Muitas vezes, sinto como se não existisse uma explicação plausível para cortes, remendos e colagens em algumas cenas que são essenciais para o desenvolvimentos de histórias. Os critérios ainda são pouco explícitos para o grande público e nos deixa cada vez mais sem saber o que pensar sobre as vantagens de trazer cada vez mais títulos para terras nacionais.

censura em Tokyo Revengers

Essa discussão já é debatida desde que o mundo é mundo (ou desde que animes como Cavaleiros do Zodíaco sofreram censuras de suas respectivas emissoras de televisão), e tomou um novo fôlego há poucos dias, quando Tokyo Revengers teve sua censura decretada por utilizar o símbolo Manji, que lembra muito o maior símbolo dos movimentos nazistas, a suástica.

A censura no anime de Ken Wakui foi deferida logo após o anúncio da produção do anime, fazendo com que muitos fãs da obra original ficassem indignados e outros tantos concordassem veementemente com a decisão. Acontece que o manji (ou suástica japonesa), é um símbolo utilizado para representar templos budistas em mapas e paz, prosperidade em toda Ásia, é um emblema sagrado para o budismo, o hinduísmo e o jainismo, mas, desde que o nazismo utilizou o símbolo em 1920 para representar o Terceiro Reich, ele virou a representação gráfica do antissemitismo, do ódio e da superioridade racial. Sob as bandeiras e estandartes nazistas mais de seis milhões de pessoas morreram entre 1935 e 1945.

“A imagem é tão poderosa do ponto de vista do desenho que seu impacto não tem precedentes na história”, conta Steven Heller sobre o símbolo, ele foi responsável por mais de 30 anos pelas imagens gráficas do jornal The New York Times.

censura nos animes

censura otaku

Porém, a censura nos animes não vem apenas de símbolos mundialmente reconhecidos, ou com um precedente histórico para a humanidade. Ela está também em alguns gestos (quem diria que Vegeta e Trunks gostavam tanto de mostrar o dedo do meio, hein?), algumas ações (como na vez que Luffy não sorriu tanto assim), alguns costumes que certos personagens têm (até hoje eu acredito que o pirulito do Sanji não era de morango) ou até mesmo para disfarçar costumes tradicionais do país de origem das obras.

Naruto censura

O fato é que, temos exemplos muito bons de censuras por motivos óbvios, mas, em contrapartida, temos tradições sendo apagadas e animes que não deveriam ser para o público infantil sendo completamente picotados, como foi o caso de Samurai X e InuYasha, ambos exibidos na Rede Globo há alguns anos e que ficaram incompletos e sem o menor sentido no final de suas exibições.

A infantilização sofrida pelas obras otaku no ocidente causa muita desinformação e censura nas obras também, principalmente nas que são adquiridas para exibição em emissoras abertas de televisão, fazendo com que o conceito preconcebido de que “animes são coisa de criança”, não permita que existam cenas de violência, sexo ou até mesmo LGBTQIA+ nas obras, frustrando assim a emissora de televisão que adquiriu aqueles direitos de exibição para o desenho animado que deveria ser exibido às 8h da manhã para um público infantil, e que agora precisa de cortes, remendos e colagens.

Enquanto houver conceitos mal interpretados sobre o universo otaku, existirá censura e cada vez mais veremos discussões como a de Tokyo Revengers tomarem forma. Segundo o portal Mangás Brasil, Takeshi Natsuno, recém nomeado presidente da Kadokawa (produtora de animes, mangás, light novels, etc reconhecida mundialmente), informou que a prioridade da empresa e de muitas outras do setor, é que o Google e a Apple sejam uma ferramenta de suporte e não de barreiras impossíveis de lidar.

“Atualmente existem muitos mangás que têm imagens muito extremas ou que tocam em temas delicados, isso infelizmente é um obstáculo para podermos aprovar os critérios do Google e da Apple. Temos que criar um novo padrão para o que pode ser mostrado ao público e o que não pertence mais a esta era da internet”. Disse o presidente da Kadokawa.

Após essa afirmação houve muito burburinho e receio de uma transformação brusca na indústria otaku do Japão, que já vem buscando se reinventar e trilhar um caminho mais politicamente correto.

sanji

Por fim, eu acho de extrema importância que temas como esse sejam levantados, apesar de não termos nem perspectiva de uma resposta concreta com relação à censuras saudáveis e abusivas e seus critérios, é interessante ver a reação do mercado de entretenimento internacional reagir ao fato de que, não, animes não são coisa de criança necessariamente e sim, trazem à tona muitos pontos problemáticos, como o fanservice e até mesmo questões ultra delicadas, como o caso de Tokyo Revengers.